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domingo, 9 de novembro de 2008
GILBERT SIMONDON
Livro - Du mode d'existence des objets techniques. Paris: Aubier, 1989.
O filósofo francês Gilbert Simondon, no livro Du mode d'existence des objets techniques, aponta questões importantes no que diz respeito às relações do ser humano com o mundo à sua volta; inicia pelas definições dos tipos de pensamento humano, como o pensamento mágico, e seus desdobramentos, pensamento religioso, artístico e científico.
Simondon trata das técnicas, desde a invenção, aos processos de produção industrial e a seguir sobre as relações que o ser humano estabelece com as máquinas. Relações de trabalho e relações de atividade técnica. Estes conceitos podem ser aplicados a determinadas máquinas, mas não é possível a expansão para o universo da produção industrial contemporânea, regida pelo mercado, ou pelo tipo de relação dos seres humanos com as máquinas, que raramente pode se qualificar como de "continuidade de invenção", a partir de uma relação de atividade técnica. Engenheiros, tecnólogos, técnicos e inventores civis são responsáveis pela invenção e aprimoramento de máquinas e tecnologias, mas nem todo usuário tem poder ou condições de interferir no processo industrial.
Quanto à gênese dos objetos técnicos, o conceito se aplica a poucos elementos técnicos, assim esta hipótese foi qualificada de "mística" após a análise de objetos técnicos industrializados realizada por cientistas, engenheiros e tecnólogos.
De acordo com Simondon deveria haver uma cultura das técnicas, como matéria ensinada na escola. Algumas faculdades de engenharia da França realizaram uma pesquisa com seus alunos, durante certo período de tempo, em que todos descreveram máquinas e objetos técnicos, analisaram seu funcionamento, fizeram desenhos, esquematizaram e formalizaram todos os instrumentos e máquinas que puderam. Chegaram à conclusão, após a pesquisa, de que seria impossível fazer isto como matéria, devido à enorme quantidade de máquinas e instrumentos que cercam os seres humanos. O tempo gasto para executar o trabalho não é compatível com o tempo de curso, pois há muito que aprender até o final com as matérias já existentes. Professores, cientistas e alunos chegaram à conclusão de que é melhor e mais proveitoso estudar e conhecer filosofia, processos e sistemas, de invenção, produção e de cultura geral, que os alunos podem aplicar a todos os objetos técnicos e máquinas.
No final do livro há discussão sobre os conceitos e as teorias de Simondon, se alguns aspectos foram criticados, como a gênese dos objetos técnicos e a aula de tecnologia, onde todos os objetos deveriam ser classificados e formalizados, com a intenção de integrar a cultura da técnica à cultura geral; por outro lado as teorias desenvolvidas por Simondon, a respeito do desenvolvimento e dos desdobramentos e fases do pensamento estão bem embasadas e são bem aceitas.
Os seres humanos estabelecem relações com o mundo por meio de fases (SIMONDON, 1989: 159) como a tecnicidade, a religião e a arte, em um sistema integrado complexo, sendo que as fases não podem existir independentemente ou isoladamente; convergem e se distanciam, ao se esgotar a energia, quando se distanciam; ou quando ele se satura, na convergência do sistema, ele se reconfigura e podem surgir novas fases.
Supõe-se que a tecnicidade resulte de uma defasagem de um jeito único, central e original de ser no mundo, o procedimento mágico; a fase que equilibra a tecnicidade é o da conduta religiosa. Ao ponto neutro, entre técnica e religião, aparece ao momento de desdobramento da unidade mágica primitiva o pensamento estético: ele não é mais uma fase, mas uma sensibilidade permanente da ruptura da unidade do procedimento mágico, e uma pesquisa da unidade futura. (SIMONDON, 1989:160).
A tecnicidade, ou seja, qualidade, condição ou caráter do que é técnico deriva do jeito mais primitivo do ser humano se colocar no mundo, por meio do pensamento mágico. É uma das fases que integram um sistema complexo que funciona segundo as relações mútuas de tensão e estabilidade, entre todas as fases. Simondon chama de pontos neutros, aqueles em que se encontram as verdades das fases, ou seja, lugares de equilíbrio do sistema. Do desdobramento da unidade mágica primitiva de ser no mundo, do ponto de verdade entre técnica e religião, surge o pensamento estético.
Ainda segundo o autor, cada uma das fases tem uma parte teórica e uma parte prática, como a arte, ou a religião; inclusive a tecnicidade se desdobra nestes termos.
O pensamento reflexivo, ou seja, as ciências e a razão, devem fundamentar a tecnologia.
É ainda da unidade mágica primitiva das relações do homem com o mundo que se deve partir para compreender a verdadeira relação das técnicas com as outras funções do pensamento humano; é por este exame que é possível apreender porque o pensamento filosófico deve realizar a integração da realidade das técnicas à cultura, que é possível identificando o significado da gênese das técnicas, pela fundação de uma tecnologia; então se atenuará a disparidade que existe entre técnicas e religião, nociva à intenção de síntese reflexiva do saber e da ética. A filosofia deve basear a tecnologia, que é o ecumenismo das técnicas, porque as ciências e a ética podem se reencontrar dentro da reflexão, temos que uma unidade das técnicas e uma unidade do pensamento religioso precedem o desdobramento de qualquer uma das formas de pensamento teórico e prático. (SIMONDON, 1989: 162).
A unidade mágica primitiva pode ser reconhecida, quando se observa o ser humano original, ao pintar cenas de caçada nas paredes das cavernas ao norte da França, durante o período glacial, por exemplo. Para realizar aquelas pinturas, estes seres lançavam mão de técnicas especializadas, entre as quais usavam soprar sobre a parede, os pigmentos que preparavam, para isto empregavam tubos vazados, com diferentes tamanhos de circunferência. Seu propósito era mágico, acreditavam que, ao representar os animais nas pinturas, eles poderiam ser abatidos, pois seus duplos já os substituíam no mundo.
O filósofo francês Gilbert Simondon, no livro Du mode d'existence des objets techniques, aponta questões importantes no que diz respeito às relações do ser humano com o mundo à sua volta; inicia pelas definições dos tipos de pensamento humano, como o pensamento mágico, e seus desdobramentos, pensamento religioso, artístico e científico.
Simondon trata das técnicas, desde a invenção, aos processos de produção industrial e a seguir sobre as relações que o ser humano estabelece com as máquinas. Relações de trabalho e relações de atividade técnica. Estes conceitos podem ser aplicados a determinadas máquinas, mas não é possível a expansão para o universo da produção industrial contemporânea, regida pelo mercado, ou pelo tipo de relação dos seres humanos com as máquinas, que raramente pode se qualificar como de "continuidade de invenção", a partir de uma relação de atividade técnica. Engenheiros, tecnólogos, técnicos e inventores civis são responsáveis pela invenção e aprimoramento de máquinas e tecnologias, mas nem todo usuário tem poder ou condições de interferir no processo industrial.
Quanto à gênese dos objetos técnicos, o conceito se aplica a poucos elementos técnicos, assim esta hipótese foi qualificada de "mística" após a análise de objetos técnicos industrializados realizada por cientistas, engenheiros e tecnólogos.
De acordo com Simondon deveria haver uma cultura das técnicas, como matéria ensinada na escola. Algumas faculdades de engenharia da França realizaram uma pesquisa com seus alunos, durante certo período de tempo, em que todos descreveram máquinas e objetos técnicos, analisaram seu funcionamento, fizeram desenhos, esquematizaram e formalizaram todos os instrumentos e máquinas que puderam. Chegaram à conclusão, após a pesquisa, de que seria impossível fazer isto como matéria, devido à enorme quantidade de máquinas e instrumentos que cercam os seres humanos. O tempo gasto para executar o trabalho não é compatível com o tempo de curso, pois há muito que aprender até o final com as matérias já existentes. Professores, cientistas e alunos chegaram à conclusão de que é melhor e mais proveitoso estudar e conhecer filosofia, processos e sistemas, de invenção, produção e de cultura geral, que os alunos podem aplicar a todos os objetos técnicos e máquinas.
No final do livro há discussão sobre os conceitos e as teorias de Simondon, se alguns aspectos foram criticados, como a gênese dos objetos técnicos e a aula de tecnologia, onde todos os objetos deveriam ser classificados e formalizados, com a intenção de integrar a cultura da técnica à cultura geral; por outro lado as teorias desenvolvidas por Simondon, a respeito do desenvolvimento e dos desdobramentos e fases do pensamento estão bem embasadas e são bem aceitas.
Os seres humanos estabelecem relações com o mundo por meio de fases (SIMONDON, 1989: 159) como a tecnicidade, a religião e a arte, em um sistema integrado complexo, sendo que as fases não podem existir independentemente ou isoladamente; convergem e se distanciam, ao se esgotar a energia, quando se distanciam; ou quando ele se satura, na convergência do sistema, ele se reconfigura e podem surgir novas fases.
Supõe-se que a tecnicidade resulte de uma defasagem de um jeito único, central e original de ser no mundo, o procedimento mágico; a fase que equilibra a tecnicidade é o da conduta religiosa. Ao ponto neutro, entre técnica e religião, aparece ao momento de desdobramento da unidade mágica primitiva o pensamento estético: ele não é mais uma fase, mas uma sensibilidade permanente da ruptura da unidade do procedimento mágico, e uma pesquisa da unidade futura. (SIMONDON, 1989:160).
A tecnicidade, ou seja, qualidade, condição ou caráter do que é técnico deriva do jeito mais primitivo do ser humano se colocar no mundo, por meio do pensamento mágico. É uma das fases que integram um sistema complexo que funciona segundo as relações mútuas de tensão e estabilidade, entre todas as fases. Simondon chama de pontos neutros, aqueles em que se encontram as verdades das fases, ou seja, lugares de equilíbrio do sistema. Do desdobramento da unidade mágica primitiva de ser no mundo, do ponto de verdade entre técnica e religião, surge o pensamento estético.
Ainda segundo o autor, cada uma das fases tem uma parte teórica e uma parte prática, como a arte, ou a religião; inclusive a tecnicidade se desdobra nestes termos.
O pensamento reflexivo, ou seja, as ciências e a razão, devem fundamentar a tecnologia.
É ainda da unidade mágica primitiva das relações do homem com o mundo que se deve partir para compreender a verdadeira relação das técnicas com as outras funções do pensamento humano; é por este exame que é possível apreender porque o pensamento filosófico deve realizar a integração da realidade das técnicas à cultura, que é possível identificando o significado da gênese das técnicas, pela fundação de uma tecnologia; então se atenuará a disparidade que existe entre técnicas e religião, nociva à intenção de síntese reflexiva do saber e da ética. A filosofia deve basear a tecnologia, que é o ecumenismo das técnicas, porque as ciências e a ética podem se reencontrar dentro da reflexão, temos que uma unidade das técnicas e uma unidade do pensamento religioso precedem o desdobramento de qualquer uma das formas de pensamento teórico e prático. (SIMONDON, 1989: 162).
A unidade mágica primitiva pode ser reconhecida, quando se observa o ser humano original, ao pintar cenas de caçada nas paredes das cavernas ao norte da França, durante o período glacial, por exemplo. Para realizar aquelas pinturas, estes seres lançavam mão de técnicas especializadas, entre as quais usavam soprar sobre a parede, os pigmentos que preparavam, para isto empregavam tubos vazados, com diferentes tamanhos de circunferência. Seu propósito era mágico, acreditavam que, ao representar os animais nas pinturas, eles poderiam ser abatidos, pois seus duplos já os substituíam no mundo.
GILBERT SIMONDON
Du mode d'existence des objets techniques. Paris: Aubier, 1989.
Tradução parcial do livro, por Leonora Fink.
SIMONDON, Gilbert. Du mode d'existence des objets techniques. Paris: Aubier, 1989.
Fink, Leonora. Tradução parcial do livro.
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Introdução
Este estudo se inicia pela intenção de suscitar uma tomada de consciência do sentido dos objetos técnicos. A cultura se constituiu em sistema de defesa contra as técnicas; ora, esta defesa se apresenta como uma defesa do homem, supondo que os objetos técnicos não contem mais da realidade humana. Nós queremos mostrar que a cultura ignora, dentro da realidade técnica uma realidade humana, e que, para desempenha seu papel completo, a cultura deve incorporar os entes técnicos sob a forma de conhecimento e de senso de valores. A tomada de consciência dos modos de existência dos objetos técnicos deve ser efetuada pelo pensamento filosófico, que se consegue por respeitar dentro desta obra um devir análogo àquele desempenhado pela abolição da escravatura e a afirmação do valor da pessoa humana.
A oposição desenhada entre a cultura e a técnica, entre o homem e a máquina é falsa e sem fundamento; ela não passa de ignorância ou ressentimento. Ela esconde por trás um fácil humanismo uma realidade rica em esforços humanos e em forças naturais, e que constitui o mundo dos objetos técnicos, mediadores entre a natureza e o ser humano.
A cultura se conduz para o objeto técnico como o ser humano para com o estrangeiro quando ele deixar prevalecer a xenofobia primitiva. O misoneísmo orientado contra as máquinas não é tanto ódio do novo que recusa a realidade estrangeira. Ora, este ente estrangeiro é ainda um ser humano e a cultura completa é a que permite descobrir o estrangeiro como humano. Bem, a máquina é o estrangeiro; é o estrangeiro bloqueado nos seres humanos, desconhecido, servil, mas mesmo assim, ainda do humano. A causa mais forte de alienação dentro do mundo contemporâneo reside dentro deste meio conhecimento da máquina, que não é mais uma alienação causada pela máquina, mas pelo não conhecimento de sua
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natureza e nem de sua essência, pela sua exclusão do mundo das significações e pela sua omissão dentro da tabela de valores e de conceitos integrantes da cultura.
A cultura é desequilibrada porque ela reconhece certos objetos, como o objeto estético, e lhes dá liberdade dentro da cidade dentro do mundo dos significados, ao mesmo tempo em que rejeita outros objetos, em particular os objetos técnicos, dentro do mundo sem estrutura, em que não possuem significados, mas somente um uso, uma função útil. Frente a esta recusa defensiva, pronunciada por uma cultura parcial, os seres humanos que conhecem os objetos técnicos e sabem seu significado procuram justificar seu julgamento dando ao objeto técnico o mesmo estatuto atualmente valorizado, aquele do objeto estético, aquele do objeto sagrado, ao invés do seu próprio valor. então nasce um tecnicismo intemperante que não é mais que uma idolatria da máquina e, através desta idolatria, por meio de uma identificação, uma aspiração tecnocrática ao poder incondicional. O desejo de posse consagra a máquina como meio de supremacia e faz dela a poção mágica moderna. O ser humano que pretende dominar seus semelhantes desperta a máquina andróide. Ele abdica então diante dela e lhe delega sua humanidade. Ele procura construir a máquina que pensa, sonhando construir a máquina voadora, a máquina viva, para continuar atrás dela sem angústia, livre de todo perigo, isento de todo sentimento de fraqueza e, triunfante imediatamente por aquilo que ele inventou. Ora, neste caso, a máquina se torna, segundo a imaginação, o duplo do homem que é o robô, desprovido de interioridade representa obviamente bem evidente e inevitável um ser puramente mítico e imaginário.
Nós queremos precisamente mostrar que o robô não existe mis, que ele não é mais uma máquina, tanto quanto uma estátua não é um ser vivente, mas somente um produto d imaginação e de fabricação fictícia, da arte da ilusão. Portanto, a noção da máquina que existe dentro da cultura atual incorpora dentro de uma grande medida esta representação mítica do robô. Um homem culto não se permitiria mais falar dos objetos ou dos personagens pintados sobre uma tela como verdadeiras realidades, portadores de interioridade, uma boa ou má vontade. este mesmo homem fala, portanto, das máquinas que ameaçam o homem como se ele atribuísse a seus objetos uma alma e uma existência separada, autônoma, o que lhe confere o uso de sentimentos e intenções contra o ser humano.
A cultura inclui assim duas atitudes contraditórias para os objetos técnicos: de um lado, ela os trata como puras
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montagens de matéria desprovidas de qualquer significação, e apresentando somente uma utilidade. De outra parte, ela supõe que estes objetos são também robôs e que eles são animados de intenções hostis contra o ser humano, ou representam para ele um permanente perigo de agressão, de insurreição. Julgando bom conservar a primeira característica, ele pretende impedir a manifestação da segunda e fala de colocar as máquinas a serviço do homem, acreditando encontrar dentro da redução à escravidão, uma certa forma de prevenir toda rebelião.
De fato, esta contradição inerente à cultura é proveniente da ambigüidade das idéias relativas ao automatismo, nas quais cabe uma verdadeira falta de lógica. Os idólatras da máquina apresentam em geral, o grau de perfeição de uma máquina como proporcional ao grau de automatismo. Além do que a experiência mostra, eles assumem que um crescimento e uma melhoria do automatismo chegará a reunir todas as máquinas entre si, de maneira a constituir uma máquina de todas as máquinas.
Ora, de fato, o automatismo é justamente um baixo grau de perfeição técnica. Para tornar uma máquina automática, deve-se sacrificar algumas possibilidades de funcionamento, também usos possíveis. O automatismo e sua utilização sob a forma de organização industrial que tem o nome de automação, possui uma significação econômica ou social, mais que uma significação técnica. O verdadeiro aperfeiçoamento das máquinas, o que podemos dizer que aumenta o grau de tecnicidade, corresponde não mais a maior automatização, mas ao contrário, ao fato de que o funcionamento de uma máquina detém um certo grau de indeterminação. É esta margem que permite à máquina de ser sensível a uma informação exterior. É por esta sensibilidade das máquinas à informação que um conjunto técnico pode se realizar, bem mais do que pelo aumento do automatismo. Uma máquina puramente automática, completamente fechada sobre ela mesma dentro de um funcionamento predeterminado, não poderá apresentar mais do que resultados sumários. A máquina dotada de alto grau de tecnicidade é uma máquina aberta, e o conjunto das máquinas abertas supõe o homem como organizador permanente, como um intérprete vivente das máquinas, uns com relação ao outros. Longe de ser o vigia de uma tropa de escravos, o homem é o organizador permanente de uma sociedade dos objetos técnicos que precisam dele como os músicos precisam do maestro. O maestro não pode dirigir os músicos a não ser que ele interaja com eles, na mesma
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intensidade do que eles todos, na execução da peça; ele os modera ou os apressa, mas é também moderado e apressado por eles; de fato, por meio dele, o grupo de músicos modera e apressa qualquer um deles, ele é para cada um a forma movente e atual do grupo existente; ele é o intérprete mútuo de todos com relação a todos. Assim o ser humano tem por função ser o coordenador e o inventor permanente das máquinas que estão ao seu entorno. Ele está entre as máquinas que operam com ele.
A presença do homem nas máquinas é uma invenção perpetuada. Isto que reside dentro das máquinas é da realidade humana, do gesto humano fixado e cristalizado em estruturas que funcionam. Estas estruturas precisam ser sustentadas no curso de seu funcionamento, e a maior perfeição coincide com a maior liberdade de funcionamento. As máquinas de calcular modernas não são mais puros autômatos; elas são entes técnicos que, apesar de seus automatismos de cálculo (ou de decisão por funcionamento de basculantes elementares), possuem vastas possibilidades de comutação de circuitos, que permitem codificar a operação da máquina em restrição de sua margem de indeterminação. É graças a esta margem primitiva de indeterminação que a mesma máquina pode extrair raízes cúbicas ou traduzir um texto simples composto com um pequeno número de palavras e de movimentos, de uma língua a uma outra.
É ainda por meio desta margem de indeterminação e não pelos automatismos que as máquinas podem ser agrupadas em conjuntos coerentes, trocar informação umas com as outras pela intermediação do coordenador que é o intérprete humano. Mesmo quando a troca de informação é direta entre duas máquinas (como entre um oscilador piloto e um outro oscilador sincronizado por impulsos) o homem intervém como ser que regula a margem de indeterminação para que ela se adapte à melhor troca possível de informação.
Ora, podemos perguntar como o homem pode realizar nele a tomada de consciência da realidade técnica e introduzi-la dentro da cultura. Esta tomada de consciência dificilmente será realizada por aquele que está empenhado em uma única máquina através de trabalho e os gestos cotidianos repetitivos; a relação de uso não é favorável à tomada de consciência, porque são recomeços habituais, dentro da estereotipia dos gestos adaptados à consciência das estruturas e dos funcionamentos. O fato de governar uma empresa utilizando as
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máquinas, ou a relação de propriedade, não é mais útil do que o trabalho para esta tomada de consciência: ele cria pontos de vista abstratos sobre a máquina, julgados por seu preço e os resultados de funcionamento mais do que nela mesma. O conhecimento científico que vê dentro de um objeto técnico a aplicação prática de uma lei teórica, não é também pelo grau de domínio técnico. Esta tomada de consciência poderia de fato ser bastante pelo engenheiro da organização que seria como o sociólogo e psicólogo das máquinas, vivendo em meio a esta sociedade de objetos técnicos onde ele é a consciência responsável e inventiva.
Uma verdadeira tomada de consciência das realidades técnicas apreendidas de dentro do seu significado corresponde a uma pluralidade aberta de técnicas. Ele também pode ir para outra, mesmo porque um conjunto técnico que pode ser entendido compreende as máquinas, nos seus princípios de funcionamento relevantes, de domínios científicos muito diferentes. A especialização dita técnica corresponde, na maior parte das vezes às preocupações exteriores aos objetos técnicos propriamente ditos (relações com o público, forma particular de comércio), e não a uma espécie de esquemas de funcionamento embutidos dentro dos objetos técnicos; é a especialização, segundo as direções exteriores às técnicas, que cria a estreiteza de visão, atribuída aos técnicos pelo homem culto, que pensa ser diferente deles: ele se agita numa estreiteza de intenções, de fins, mais que de uma estreiteza de informação ou de intuição das técnicas. Muito raras são, em nossos dias, as máquinas que não são mais, em qualquer medida, mecânicas, térmicas e elétricas, de uma só vez.
Para dar novamente à cultura a característica verdadeiramente geral que ela perdeu, o que deve ser possível ao se reintroduzir nela a consciência da natureza das máquinas, das suas relações mútuas e de suas relações com o ser humano e dos valores implicados, dentro destas relações. Esta tomada de consciência necessita da existência, com incumbências do psicólogo e do sociólogo, do tecnólogo ou mecanólogo. Além disto, os esquemas fundamentais de causalidade e de regulação, que constituem uma axiomática da tecnologia, devem ser ensinados universalmente, como são ensinados os fundamentos da cultura literária. A iniciação às técnicas deve ser baseada sobre o mesmo plano do que a educação científica; ela é tão desinteressada quanto a prática das artes, e domina todas as aplicações práticas que a física teórica; ela pode atender o mesmo grau de abstração e de simbolização. Uma criança deverá saber o que é uma
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auto-regulação ou uma reação positiva como ele conhece os teoremas matemáticos.
Esta reforma da cultura, procedente pelo crescimento e não por destruição, poderá dar novamente à cultura atual o poder regulador verdadeiro que ela perdeu. Baseada em significações, em recursos de expressão, de justificações e das formas, uma cultura estabilizada entre aqueles que possuem uma comunicação reguladora; deixando a vida do grupo, ela anima os gestos das pessoas que o exercício das funções de comando, no fornecimento das normas e dos esquemas. Ora, diante do grande desenvolvimento das técnicas, a cultura incorpora como padrões os esquemas, os símbolos, as qualidades, as analogias, os principais tipos de técnicas, dando origem a uma experiência de vida. Ao contrário, a cultura atual é a cultura anciã, incorporando como esquemas dinâmicos os estatutos das técnicas artesanais e agrícolas dos séculos passados. E são estes esquemas que servem de mediadores entre os grupos e seus chefes, impondo, devido à sua inadequação às técnicas, uma distorção fundamental. O poder se torna literatura, arte de opinião, advocacia sobre semelhantes verdades, retórica. As funções diretrizes são falsas porque não existe mais, entre a realidade governada e os que governam um código adequado de relações: a realidade governada comporta os homens e as máquinas; o código é baseado na experiência do ser humano trabalhando com ferramentas, ele mesmo enfraquecido e longínquo porque aqueles que utilizaram este código não vivem mais, como Cincinnatus, da liberdade das correias dos arados. O símbolo se enfraquece em simples troca de linguagem, o real está ausente. Uma relação reguladora de causalidade circular não pode se estabelecer entre o conjunto da realidade governada e a função de autoridade: a informação não faz mais porque o código se tornou inadequado ao tipo de informação que ele deve transmitir. Uma informação que exprimirá a existência simultânea e correlativa dos homens e das máquinas deve comportar os esquemas de funcionamento das máquinas e dos valores que eles implicam. O fato que a cultura se tornar geral novamente, enquanto se especializa e empobrece. Esta extensão da cultura, suprimindo uma das principais fontes de alienação e recuperação da informação reguladora, possui um valor político e social: ela pode dar ao homem as condições para pensar sua existência e sua situação em função da realidade ao seu entorno. Esta obra de crescimento e de aprofundamento da cultura tem também um papel propriamente filosófico a desempenhar, uma vez que conduz à crítica de um certo número de mitos
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e de estereótipos, como aquele do robô, ou dos autômatos perfeitos ao serviço de uma humanidade preguiçosa e exausta.
Para operar esta tomada de consciência, é possível buscar a definição do objeto técnico nele mesmo, pelo processo de concretização e de superdeterminação funcional que ele dá sua consistência ao termo de uma evolução, provando que ele não pode ser considerado somente como uma utilidade. As modalidades desta gênese permitem apreender as três etapas do objeto técnico e suas coordenação temporal não dialética: o elemento, o indivíduo, o conjunto.
O objeto técnico se define por sua gênese, é possível estudar as relações entre o objeto técnico e as outras realidades, em particular o ser humano à idade adulta e a criança.
Enfim, considerado como objeto de um julgamento de valores, o objeto técnico pode suscitar atitudes muito diferentes daquela que ele recebe no patamar de elemento, no patamar de indivíduo ou no patamar do conjunto. No patamar do elemento seu aperfeiçoamento não introduz nenhuma convulsão causando ansiedade por conflito com hábitos adquiridos: é o clima de otimismo do século XVIII, introduzindo a idéia de um progresso contínuo e indefinido, chegando a uma melhora constante do destino do ser humano. Ao contrário, o indivíduo técnico, por um tempo, passa a ser inimigo do homem, seu concorrente, porque o homem centraliza nele a individualidade técnica numa altura em que existiam apenas as ferramentas; a máquina toma o lugar do homem porque o homem desempenha uma função de máquina, de portador de ferramentas. A esta fase corresponde uma noção dramática e passional do progresso se tornando violação da natureza, conquista do mundo, captação de energias. Esta vontade de possuir se exprime por meio da desmedida tecnicista e tecnocrática da era da termodinâmica, em que há um retorno à fé profética e cataclísmica. Enfim, na etapa dos conjuntos técnicos do século XX, a energia termodinâmica é trocado pela teoria da informação, onde o conteúdo normativo é eminentemente regulador e estabilizador: o desenvolvimento das técnicas aparecerá como uma garantia de estabilidade. a máquina como elemento do conjunto técnico, se torna esta que aumenta a quantidade de informação, aquela que aumenta a entropia negativa, esta que se opõe à degradação da energia: a máquina, obra da organização, de informação é como a vida e com a vida, esta que se opõe à desordem, ao nivelamento de todas as coisas tendendo a privar o universo do poder de transformação. A máquina é esta pela qual
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o ser humano se opõe à morte do universo; ela atrasa, como a vida, a degradação da energia, e se torna estabilizadora do mundo.
Esta modificação do olhar filosófico sobre o objeto técnico anuncia a possibilidade de uma introdução do este técnico dentro da cultura: esta integração que não poderia ter lugar nem no patamar de elementos, nem no patamar de indivíduos de maneira definitiva, poderá com mais chances de estabilidade no patamar dos conjuntos; a realidade técnica se torna reguladora poderá se integrar à cultura, reguladora por essência. Esta integração só poderia ser feita através da adição do tempo em que residia nos elementos técnicos, por efração e revolução ao tempo onde a tecnicidade residia dentro dos novos indivíduos técnicos; hoje em dia, a tecnicidade tende a residir dentro dos conjuntos; ela pode ainda se tornar um fundamento da cultura à qual ele acrescentará um poder de unidade e estabilidade, tornando-a adequada à realidade que ela exprime e que ela regula.
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Primeira Parte
Gênese e evolução dos objetos técnicos.
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I – Objeto técnico abstrato e objeto técnico concreto
O objeto técnico é submetido a uma gênese, mas é difícil definir a gênese de qualquer objeto técnico porque a individualidade dos objetos técnicos se modifica no curso da gênese; dificilmente se pode definir os objetos técnicos por seu pertencimento a uma espécie técnica; as espécies são fáceis de distinguir sumariamente , pelo uso prático, tanto que se aceita definir o objeto técnico pelo fim prático a que ele responde; mas ele se encontra além de uma especificidade ilusória, onde alguma estrutura fixa não corresponde a um uso definido. Um mesmo resultado pode ser obtido a partir de funcionamentos e de estruturas muito diferentes: um motor a vapor, um motor a gasolina, uma turbina, um motor aparente ou a peso são todos igualmente motores; portanto, existe mais do que analogia real entre um motor aparente e um arco ou uma besta que entre este mesmo motor e um motor a vapor; um relógio a peso possui um motor análogo a um guincho, enquanto que um relógio com manutenção elétrica é análogo a uma campainha ou a um vibratório. O uso reunido das estruturas e dos funcionamentos heterogêneos subgêneros e espécies que tiram seu significado da relação entre seu funcionamento e um outro funcionamento, aquele do ser humano dentro da ação. Deste jeito, este ao qual damos um nome único, como por exemplo, aquele do motor, pode ser múltiplo em um momento e pode variar dentro do tempo de mudança de individualidade.
Dependendo, ao invés de partir da individualidade do objeto técnico, ou mesmo de sua especificidade, que é muito instável, para tentar
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definir as leis da sua gênese dentro do quadro desta individualidade ou desta especificidade é preferível inverter o problema: é a partir dos critérios da gênese que podemos definir a individualidade e a especificidade do objeto técnico: o objeto técnico individual não é para esta tal ou aquela coisa, dada hic et nunc, mas onde há gênese (1). a unidade do objeto técnico, sua individualidade, sua especificidade, são as características de consistência e de convergência de sua gênese. a gênese do objeto técnico faz parte de seu ser. O objeto técnico é este que não é mais anterior ao seu devir, mas presente a qualquer etapa de seu devir; o objeto técnico é para se tornar unidade. O motor a gasolina não é mais tal e tal motor dado dentro do tempo e dentro do espaço, mas o fato é que há uma continuidade que varia dos primeiros motores àqueles que nós conhecemos e que são ainda em evolução. Tem este título, como dentro de uma linha filogenética, um estado definido de evolução contem nele as estruturas e os esquemas dinâmicos que são o princípio de uma evolução das formas. O ente técnico evolui por convergência e por adaptação a si mesmo; ele se unifica interiormente segundo um princípio de ressonância interna. O motor do automóvel de hoje não é o descendente do motor de 1910, somente porque o motor de 1910 é aquele construído pelos nossos ancestrais. Ele não é mais seu descendente porque ele é mais perfeito relativamente ao uso; de fato, por tal e tal uso, um motor de 1910 ainda é superior a um motor de 1956. Por exemplo, ele pode suportar um aquecimento importante sem travar ou fundir, tendo sido construído com grandes jogos mais importantes e sem ligas frágeis como regulagens; ele é mais autônomo, possuindo uma ignição por magneto.
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Dos antigos motores funcionando sem defasagem nos barcos de pesca, depois de ter estado sobre um automóvel horas de uso. É por um exame interior dos regimes de causalidade e das formas enquanto elas são adaptadas a estes regimes de causalidade que o motor do automóvel atual é definido como posterior ao motor de 1910. Dentro de um motor atual, qualquer peça importante é inscrita na outra pelas trocas recíprocas de energia que ela não pode ser outra a não ser a que ela é. A forma do ambiente de explosão, a forma e as dimensões das válvulas a forma do pistão fazem parte de um mesmo sistema, dentro do qual existem múltiplas causalidades recíprocas. A cada forma dos elementos corresponde uma certa taxa de compressão, que exige ela mesma um grau determinado de avanço da ignição; a forma do cabeçote, o metal do qual é feito em relação com todos os outros elementos do ciclo, produzem uma certa temperatura dos eletrodos da frente das válvulas; [...]
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[...]
Nós supomos que a tecnicidade resulte de uma defasagem de um jeito único, central e original de ser no mundo, o procedimento mágico; a fase que equilibra a tecnicidade é o da conduta religiosa. Ao ponto neutro, entre técnica e religião, aparece ao momento de desdobramento da unidade mágica primitiva o pensamento estético: ele não é mais uma fase, mas uma sensibilidade permanente da ruptura da unidade do procedimento mágico, e uma pesquisa da unidade futura. (SIMONDON, 1989:160).
[...]
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II. – A defasagem da unidade mágica primitiva
É ainda da unidade mágica primitiva das relações do homem com o mundo que se deve partir para compreender a verdadeira relação das técnicas com as outras funções do pensamento humano; é por este exame que é possível apreender porque o pensamento filosófico deve realizar a integração da realidade das técnicas à cultura, que é possível identificando o significado da gênese das técnicas, pela fundação de uma tecnologia; então se atenuará a disparidade que existe entre técnicas e religião, nocivas à intenção de síntese reflexiva do saber e da ética. A filosofia deve basear a tecnologia, que é o ecumenismo das técnicas, porque as ciências e a ética podem se reencontrar dentro da reflexão, temos que uma unidade das técnicas e uma unidade do pensamento religioso precedem o desdobramento de qualquer uma das formas de pensamento de modo teórico e modo prático. (SIMONDON, 1989: 162).
[...]
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[...] a mediação entre o ser humano e o mundo se objetiva no objeto técnico como ela se subjetiva no mediador religioso; mas esta objetivação e esta subjetivação opostas e complementares são precedidas por uma primeira etapa da relação com o mundo, a etapa mágica, dentro da qual a mediação não é mais nem subjetivada nem objetivada, nem fragmentada nem universalizada, e não é mais que a mais simples e mais fundamental das estruturações de um ser vivo: o nascimento de uma rede de pontos privilegiados de trocas entre o ser e seu meio. (SIMONDON, 1989: 164).
[...]
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[...]
Ora, o pensamento mágico é o primeiro, porque ele corresponde à estruturação mais simples, a mais concreta, a mais vasta e mais flexível: aquela da reticulação. Dentro da totalidade constituída pelo homem aparecerá como primeira estrutura uma rede de pontos privilegiados realizando a inserção do esforço humano e, através dos quais se efetuam as trocas entre o homem e o mundo. Cada ponto singular concentra em si a capacidade de comandar a uma parte do mundo que ele representa particularmente e onde ele traduz a realidade, dentro da comunicação com o homem. Poderemos chamar estes pontos singulares de pontos-chave comandando a relação homem-mundo, de maneira reversível, porque o mundo influencia o homem como o homem influencia o mundo. Estes são os cumes das montanhas ou certos desfiladeiros, naturalmente mágicos, porque eles governam um país. O coração da floresta, o centro de uma planície não são mais somente realidades geográficas metaforicamente ou geometricamente desenhadas: eles são realidades que concentram os porvires naturais como eles focalizam o esforço humano: eles são as estruturas figurais com relação à massa que os suporta, e que constitui seu fundo. (SIMONDON, 1989: 165).
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Dentro da vida civilizada atual, as vastas instituições concernem ao pensamento mágico, mas são escondidos pelos conceitos utilitários que os justificam indiretamente; eles são em particular os feriados, as festas, as férias, que compensam pela carga mágica a perda de porvir mágico que a vida civilizada urbana impõe. Assim, as viagens de férias, consideradas como para obter descanso e distração, são de fato uma busca de pontos-chave anciãos ou novos; estes pontos podem ser a cidade grande para o rural, ou o campo para o citadino, mas geralmente não importa que ponto da cidade ou do campo; é o rio ou a alta montanha, ou ainda a fronteira que ele vai cruzar para entrar em país estrangeiro. As datas dos feriados são relativas aos momentos privilegiados do tempo; algumas vezes pode existir um reencontro entre os momentos singulares e os pontos singulares.
Ora, o tempo corrente e o espaço corrente servem de fundo a estas figuras; dissociadas do fundo, as figuras perderiam sua significação; feriados e celebrações não são mais uma reposição com relação à vida corrente, mas uma procura dos lugares e das datas privilegiadas com relação ao fundo contínuo. (SIMONDON, 1989: 167)
[...]
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Capítulo II
Relações entre o pensamento técnico e as outras espécies de pensamento.
I. Pensamento técnico e pensamento estético.
De acordo com esta hipótese genética, não se deve considerar os diferentes modos de pensamento como paralelos uns aos outros; assim, não se pode comparar o pensamento religioso e o pensamento mágico porque eles não estão em um mesmo plano; mas, ao contrario, é possível comparar o pensamento técnico e o pensamento religioso, porque eles são contemporâneos um do outro; para compará-los, não é suficiente determinar suas características particulares, como se eles fossem espécies de um gênero; temos de retomar o desempenho genético de sua formação, porque eles existem como par, como resultado do desdobramento de um pensamento completo primitivo, o pensamento mágico. Quanto ao pensamento estético, ele não é jamais de um domínio limitado, nem de uma espécie determinada, mas somente de uma tendência; ele é esse que mantém a função de totalidade. Nesse sentido, ele pode ser comparado ao pensamento mágico, desde que se diga que ele não contém mais, como o pensamento mágico, uma possibilidade de desdobramento em técnica e religião; para ir longe na direção do desdobramento, o pensamento estético é esse que mantém a memória implícita da unidade; de uma das fases de desdobramento, ele chama a outra fase complementar; ele busca a totalidade do pensamento e visa à recompor uma unidade pela relação analógica lá, onde o aparecimento das fases poderá criar o isolamento mútuo do pensamento com relação a ele mesmo.
Sem dúvida, uma maneira parecida de considerar o esforço estético levará à falsidade se quisermos caracterizá-lo pela sorte das obras de arte que existem no estado institucional dentro de uma civilização dada, e bem mais agora, se quisermos definir a essência
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da estética. Mas, porque as obras de arte são possíveis, o fato que elas são tornadas possíveis por uma tendência fundamental do ser humano, e pela capacidade de testar em certas circunstancias reais e vitais a impressão estética.
A obra de arte faz parte que uma civilização utilize a impressão estética e satisfaça, algumas vezes artificialmente e de maneira ilusória, a tendência do homem de procurar, quando ele exerce um certo tipo de pensamento, o complemento com relação à totalidade. Será insuficiente dizer que a obra de arte manifesta a nostalgia do pensamento mágico; de fato, a obra de arte profere o equivalente do pensamento mágico, porque ela tenha encontrado, a partir de uma situação dada, e de acordo com uma relação analógica estrutural e qualitativa, uma continuidade universalizante com relação a outras situações e a outras realidades possíveis. A obra de arte refaz um universo reticular pelo menos para a percepção. Mas a obra de arte não reconstrói realmente o universo mágico primitivo: esse universo estético é parcial, inserido e contido dentro do universo real e atual resultante do desdobramento. Na verdade, a obra de arte mantém, sobretudo, e preserva, a capacidade de experimentar a impressão estética, tal como a linguagem possibilita a capacidade de pensar sem, no entanto, ser o pensamento.
[...]
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O caráter estético de um ato ou de uma coisa é sua função de totalidade, sua existência, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, como ponto remarcável. Todo ato, toda coisa, todo momento têm neles uma capacidade de se transformarem nos pontos remarcáveis de uma nova reticulação do universo. Cada cultura seleciona alguns dos atos e algumas das situações que são aptas a se transformarem em pontos remarcáveis; mas não é a cultura que cria a capacidade de uma situação se transformar em um ponto remarcável; ela coloca somente barreiras a certos tipos de situação, deixando à impressão estética apenas algumas vias estreitas em comparação com a espontaneidade da impressão estética; a cultura intervém como limite, mais do que como criadora.
O destino do pensamento estético, ou mais exatamente da inspiração estética de todo pensamento tendendo à sua conclusão, é reconstituir ao interior de cada modo de pensamento uma reticulação que coincide com a reticulação dos outros modos de pensamento: a tendência estética é o ecumenismo do pensamento. Nesse sentido, além mesmo da maturidade de qualquer um dos gêneros de pensamento, intervém uma reticulação final que aproxima os pensamentos separados provenientes da quebra da magia primitiva. O primeiro estado de desenvolvimento de cada pensamento é o isolamento, a não aderência ao mundo, a abstração. [...]
[...] As técnicas, antes de haverem mobilizado e destacado do mundo as figuras esquemáticas do mundo mágico, retornam para o mundo para se aliarem a ele pela coincidência do cimento e da pedra, do cabo e do vale, do pilotis e da colina; uma nova reticulação, selecionada pela técnica, se institui dando privilégio a certos lugares do mundo, dentro de uma aliança sinérgica, híbrida dos esquemas técnicos e dos poderes naturais. Aparece a impressão estética, dentro desse acordo e dessa passagem da técnica que se torna de novo concreta, inserida, ligada ao mundo pelos pontos chaves mais remarcáveis. A mediação entre o homem e o mundo se torna ela mesma um mundo, a estrutura do mundo. Bem, a mediação religiosa, antes do dogmatismo solto do concreto do universo e mobilizando qualquer dogma para conquistar todo representante da espécie humana, aceita se concretizar, quer dizer de se
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mesclar a qualquer cultura e a qualquer grupo humano de acordo com as modalidades relativamente pluralistas; a unidade se transforma em unidade de uma rede em vez de ser unidade monista de um único princípio e de uma única fé.
A maturidade das técnicas e das religiões tende para a reincorporação ao mundo, geográfico para asa técnicas, humano para as religiões.
[...] A impressão estética, comum ao pensamento religioso e ao pensamento técnico, é o único ponto que pode permitir religar essas duas metades do pensamento resultante do abandono do pensamento mágico.
O pensamento filosófico pode ainda, desse jeito, para saber como ele deve tratar a disponibilização das técnicas e da religião ao nível de distinção das modalidades teóricas e práticas, se perguntar como a atividade estética trata essa disponibilização ao nível precedente à distinção dessas modalidades. Essa que se rompeu dentro da passagem da magia às técnicas e à religião é a primeira estrutura do universo, a saber a reticulação dos pontos principais, mediação direta entre o homem e o mundo. Ora, a atividade estética preserva precisamente essa estrutura de reticulação. Ela não pode preservá-la realmente dentro do mundo, pois ela não pode substituir as técnicas e a religião, isso que seria recriar a magia. Mas ela a preserva na construção de um mundo dentro do qual ela pode continuar a existir, e que é ao mesmo tempo técnico e religioso; ele é técnico porque ele é construído ao invés do ser natural, e que ele utiliza o poder da aplicação dos objetos técnicos ao mundo natural para fazer o mundo da arte; ele é religioso no sentido de que esse mundo incorpora as forças, as qualidades, as características de fundo que as técnicas deixam de fora; em vez de as subjetivar como o faz o pensamento religioso ao os universalizar, em vez de os objetivar fechando-os dentro do útil ou do instrumento, como o faz o pensamento técnico, operando sobre as estruturas figurais dissociadas, o pensamento estético, restando dentro do intervalo entre a subjetivação religiosa e a objetivação técnica, meramente concretiza as qualidades de fundo em meio das estruturas técnicas: ele faz assim a realidade estética, nova mediação entre o homem
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e o mundo, mundo intermediário entre o homem e o mundo.
A realidade estética não pode, com efeito, ser dita nem propriamente objeto nem propriamente sujeito; certamente há uma relativa objetividade dos elementos dessa realidade; mas a realidade estética não é mais destacável do homem e do mundo como um objeto técnico; ela não é nem utilidade nem instrumento; ela pode ficar agregada ao mundo, existindo, por exemplo numa organização intencional de uma realidade natural; ela pode também continuar ligada ao homem, tornando-se uma modulação da voz, um turno de expressão, uma maneira de se vestir; ela não possui mais essa característica necessariamente destacável do instrumento; ela pode permanecer inserida, e fica mesmo normalmente inserida dentro da realidade humana ou dentro do mundo; nós não colocamos uma estátua, nós não plantamos uma árvore em qualquer lugar. Existe uma beleza das coisas e dos seres, uma beleza das maneiras de ser, e a atividade estética começa por senti-la e organizá-la respeitando-a quando ela é naturalmente produzida. A atividade técnica, ao contrário, construída à parte, destaca seus objetos, e lhes aplica ao mundo de maneira abstrata, violenta; mesmo quando o objeto estético é produzido de maneira destacada, como uma estátua ou uma lira, esse objeto permanece o ponto chave de uma parte do mundo e da realidade humana; a estátua colocada diante de um templo é aquela que tem um sentido para um grupo social definido, e o simples fato para a estátua ser colocada no lugar, quer dizer para ocupar um ponto chave que ela utiliza e reforça, mas não acredita mais, mostra que ela não é mais um objeto desligado. Podemos bem dizer que uma lira, enquanto que produtora de sons, é objeto estético, mas os sons da lira não são objetos estéticos que, dentro da medida, concretizam um certo modo de expressão, de comunicação, já existente dentro do homem; a lira se deixa portar como um instrumento, mas os sons que ela produz, e que constituem a verdadeira realidade estética, são inseridos dentro da realidade humana e dentro dessa do mundo; a lira não pode ser entendida dentro do silêncio ou com alguns ruídos determinados, como aquele do vento ou do mar, não com o ruído das vozes ou o murmúrio de uma multidão; o som da lira deve se inserir dentro do mundo, como a estátua se insere. O objeto técnico enquanto utilidade, ao contrário, não se insere mais, porque ele pode agir em todos os lugares, funcionar em todos os lugares. É bem a inserção que define o objeto estético, e não a imitação: uma peça musical que imita os ruídos não pode se inserir dentro do mundo, porque ela substitui certos elementos do universo (por exemplo o barulho do mar) ao invés de completá-los. Uma estátua, em certo sentido, imita um homem, e o completa, mas
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não é mais por isso que ela é uma obra estética; ela é porque se insere dentro de uma arquitetura de uma cidade, marca o ponto mais alto de um promontório, termina uma muralha, supera uma torre. [...]
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O objeto técnico pode ser belo de um jeito diferente, pela sua integração no mundo humano que ele prolonga; assim, uma ferramenta pode ser bela dentro da ação de adaptar-se bem ao corpo que ele parece prolongar de um jeito natural e amplifica, de qualquer jeito suas características estruturais; um punhal não é realmente belo a não ser na mão que o segura; do mesmo jeito, uma ferramenta, uma máquina ou um conjunto técnico são belos quando eles se inserem dentro de um mundo humano e o cobrem de expressão; se o alinhamento das mesas de uma central telefônica é bela, não é em si mesma nem pela sua relação ao mundo geográfico, porque pode estar em qualquer lugar, é porque acende de instante em instante as constelações multicolores e em movimento representando os gestos reais de uma multidão de seres humanos, ligados uns aos outros pelo entrecruzamento dos circuitos. a central telefônica é bela em ação, porque ela é, a todo instante, a expressão e a realização de um aspecto da vida de uma cidade e de uma região; uma luz é como esperado, uma intenção,
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um desejo, uma novidade iminente, uma aniagem que nós não entenderemos mais, a menos que vá ressoar dentro de uma outra casa. Essa beleza é dentro da ação, ela não é mais somente instantânea, mas feita também de um ritmo das horas do dia e da noite. A central telefônica é bela não pelas características do objeto, mas porque ela é um ponto central da vida coletiva e individual. [...]
[...]
Assim, podemos dizer que o objeto estético não está mais, propriamente a falar de um objeto, mas tanto de um prolongamento do mundo natural ou do mundo humano que permanece inserido dentro da realidade que ele porta; ele é um ponto remarcável do universo; esse ponto resulta de uma elaboração e beneficia a tecnicidade; mas ele não é mais arbitrariamente colocado dentro do mundo; ele representa o mundo e focaliza suas forças, suas qualidades de fundo, como mediador religioso; ele se mantém dentro de um estatuto intermediário entre a objetividade e a subjetividade puras. Quando o objeto técnico é belo, é porque se insere dentro do mundo natural ou humano, como a realidade estética. A realidade estética se distingue da realidade religiosa nisso que ela não deixa nem universalizar, nem subjetivar; o artista não é mais
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confundido com a obra, e, se certas idolatrias nascem, elas são reconhecidas como idolatrias; é a tecnicidade da obra de arte que previne a realidade estética de ser confundida com a função de totalidade universal; a obra de arte continua artificial e localizada, produzida em um certo momento; ela não é anterior e superior ao mundo e ao homem. O conjunto de obras de arte continua o universo mágico, mantendo sua estrutura: ele marca o ponto neutro entre as técnicas e a religião.
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A realidade estética se encontra assim adicionada à realidade dada, mas ao longo das linhas que existiam já dentro da realidade dada; ela é que reintroduz dentro da realidade dada as funções figurais e as funções de fundo que, ao momento da dissociação do universo mágico, tornaram-se técnicas e religião. Sem a atividade estética, entre técnicas e religião não existirá mais que uma zona neutra de realidade sem estrutura e sem qualidades; graças à atividade estética, essa zona neutra, embora continuando central e equilibrada, encontra uma densidade e uma significação; ela recomeça através das obras estéticas a estrutura reticular que se estenderá ao conjunto do universo antes da dissociação do pensamento mágico.
Enquanto o pensamento técnico é feito de esquemas, de elementos figurais sem realidade de fundo, e o pensamento religioso de qualidades e de forças de fundo sem estruturas figurais, o pensamento estético combina as estruturas figurais e as qualidades de fundo. Ao invés de representar, como o pensamento técnico, as funções elementares, ou como o pensamento religioso, as funções de totalidade, ele mantém em conjunto elementos e totalidade, figura e fundo dentro da relação analógica; a reticulação estética do mundo é uma rede de analogias.
Com efeito, a obra estética é ligada não mais somente ao mundo e ao homem, como uma realidade intermediária única; ela é ligada também às outras obras, sem se confundir com elas, sem ser em continuidade material com elas, e guardando sua identidade; o universo estético se caracteriza pelo poder de passagem de uma obra à outra, dependendo de uma relação analógica essencial. A analogia é o fundamento da possibilidade de passagem de um termo a um outro sem negação de um termo pelo próximo.
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[...] É porque o pensamento religioso cria as categorias e as classes homogêneas, como aquela do puro e do impuro, sabendo os seres por inclusão dentro dessas classes ou por exclusão destas classes; o pensamento técnico desmonta e reconstrói o funcionamento dos seres, elucidando suas estruturas figurais; o pensamento técnico opera, o pensamento religioso julga, o pensamento estético opera e julga ao mesmo tempo, construindo estruturas e surpreendendo as qualidades do fundo de realidade, de maneira conexa e complementar, dentro da unidade de qualquer ser: ele reconhece a unidade ao nível do ser definido, do objeto do conhecimento e do objeto da operação, ao invés de permanecer, como o pensamento técnico, ou, como o pensamento religioso, todos os dias acima desse nível.
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[...]
A obra estética não é mais a obra completa e absoluta; ela é essa que ensina a ir para a obra completa, que deve estar dentro do mundo e fazer parte do mundo como se ela pertencesse realmente ao mundo, e não como estátua dentro do jardim; é o jardim e a casa que são belos, não as estátuas do jardim que, algumas belas por elas mesmas, o tornam belo. É graças ao jardim que a estátua pode parecer como bela, não o jardim graças à estátua. É com relação a toda a vida de um homem que um objeto pode ser belo. Do contrário, jamais se fala propriamente que o objeto é belo: é o encontro, se operando a propósito do objeto, entre um aspecto real do mundo e um gesto humano. [...]
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[...] a arte é essa porque, a partir da ciência, da moral, da mística, do ritual, surgiu uma nova reticulação e por conseqüência, através dessa nova reticulação, um universo real, no qual se completa o esforço separado dele mesmo que é isso da disjunção interna sofrida pela técnica e pela religião, e por conseqüência, através dessas duas expressões da magia, pelo esforço primário de estruturação do universo. A arte reconstitui o universo, ou melhor reconstitui um universo, enquanto que a magia parte de um universo para estabelecer uma estrutura que já diferencie e corte o universo em domínios carregados de sentido e de poder. A arte visa um universo a partir do esforço humano e reconstitui uma unidade. A arte é assim a recíproca da magia, mas ela não pode ser completamente antes das duas disjunções sucessivas.
Existem duas formas parciais de arte: a arte sagrada e a arte profana; entre a atitude mística e a atitude ritual, a arte pode intervir como mediador; essa arte é como um ato do padre, sem ser, no entanto, isso que constitui um padre; ele encontra qualquer coisa do mediador que desapareceu dentro da quebra que, no lugar da religião, fez aparecer a atitude mística e a atitude ritual.
[...]
A arte é feita de atividade artística e de obra subjetivada, atualizada; nesse sentido, existe mediação porque há celebração.
Bem, a arte profana instala seu objeto, resultante do trabalho artístico, entre o saber teórico e a exigência moral; o belo é intermediário entre o verdadeiro e o bem, se desejamos usar a terminologia eclética. O objeto estético é como a ferramenta intermediária entre as estruturas objetivas e o mundo subjetivo; ele é mediador entre o saber e a vontade. O objeto estético concentra e exprime aspectos do saber e aspectos do querer. A expressão e a criação estéticas são ao mesmo tempo saber e ato. O ato estético se completa em si mesmo como o saber; mas o saber estético é mítico: ele oculta um poder da ação; o objeto estético é resultante de uma operação intermediária entre o saber e a ação.
[...]
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[...] a arte é essa que dentro de um modo, permanece não modal, como ao redor de um indivíduo permanece uma realidade pré individual associada a ele e ele permitindo a comunicação dentro da instituição do coletivo.
A intenção estética é essa que, em certa medida, estabelece uma relação horizontal entre diferentes modos de pensamento. Ela permite passar de um domínio a um outro, de um modo a um outro, sem haver recorrido a um gênero comum; a intenção estética detém o poder transdutivo que conduz de um domínio a outro; ela é exigência de requisito e de passagem ao limite; ela é o contrário do senso da propriedade, do limite, da essência contida dentro de uma definição, da correlação entre uma extensão e uma compreensão. A intenção estética é já nela mesma exigência de totalidade, procura de uma realidade de conjunto. Sem a intenção estética, haveria uma procura indefinida das mesmas realidades ao interior de uma especialização mais e mais estreita,; é porque a intenção estética parece um perpétuo desvio a partir de direções centrais de uma procura; esse desvio é na realidade uma procura da continuidade real sob a fragmentação arbitrária dos domínios.
A intenção estética permite o estabelecimento de uma continuidade transdutiva religando os modos entre eles: passamos assim dos modos do pensamento religioso, aos modos aos modos do pensamento técnico (vale melhor dizer: do pensamento religioso ao pensamento
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pós-técnica), segundo a ordem seguinte: teológica, mística, prática, teórica: mas essa relação transdutiva é fechada sobre ela mesma, se bem que ela não pode ser apreendida senão por uma representação espacial; ao passo que em efeito do teórico ao teológico como passamos do místico ao prático; há continuidade entre as duas ordens objetivas e entre as duas ordens subjetivas. Há assim também continuidade de uma ordem subjetiva a uma ordem objetiva ao interior de cada um dos dois domínios, o técnico e o religioso.
Assim, a intenção estética não cria mais, ou pelo menos não deve mais criar um domínio especializado, aquele da arte; a arte, com efeito, se desenvolve sobre um domínio e possui uma finalidade interna implícita: conservar a unidade transdutiva de um domínio de realidade que tende a se separar em sua especialização. A arte é uma reação profunda contra a perda de significação e de filiação ao conjunto do ser dentro de seu destino; ele não é mais ou não deve ser mais compensação, realidade acontecida após golpe, mas ao contrário, unidade primitiva, prefácio a um desenvolvimento dependendo da unidade; a arte anuncia, pré-figura, introduz, ou completa, mas não realiza mais: ela é inspiração profunda e unitária que inicia e consagra.
Podemos mesmo perguntar se a arte, dentro da medida onde se constata, não é mais assim que resumo de uma certa maneira e torna transportável a uma outra unidade temporal, a um outro momento da história, um conjunto de realidade. A arte, dentro da celebração e da entronização final que realiza, transforma a realidade cumprida e localizada hic et nunc em uma realidade que poderá atravessar o tempo e o espaço: ele torna as conquistas humanas infinitas; dizemos habitualmente que a arte eternize as diferentes realidades; de fato, a arte não é eternizada, mas fica transdutiva, doando a uma realidade localizada e cumprida o poder de passar a outros locais e a outros momentos. Ela não se torna mais eterna, mas dá o poder de renascer e de se recompletar; ele deixa sementes; ele dá ao ser particular realizado hic et nunc o poder de ser ele mesmo e portanto de ser de novo ele mesmo uma outra vez e uma multitude de outras; a arte afrouxa os nós da aceitação; ela multiplica a aceitação, dando à identidade o poder de se repetir sem cessar de ser identidade.
A arte cruza os limites ontológicos, se liberando com relação ao ser e ao não ser: um ser pode se tornar e se repetir sem se negar e sem recusar ter sido, a arte é poder de interação que não destrói a realidade de cada recomeço; nisso ela é
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mágica. Ela faz que toda realidade, singular dentro do espaço e dentro do tempo, seja portanto uma realidade em rede: esse ponto é homólogo de uma infinidade de outras que lhe respondem e que são elas mesmas sem, no entanto destruir a identidade de cada nó da rede: lá, nessa estrutura reticular do real, reside esse que podemos nomear mistério estético.
II. Pensamento técnico, pensamento teórico, pensamento prático
O poder de convergência da atividade estética não se exerce plenamente a não ser no nível da relação entre as formas primitivas das técnicas e das religiões. Mas o poder de divergência contido dentro da autonomia do desenvolvimento das técnicas e das religiões cria uma nova ordem de modos de pensamento, provenientes do desdobramento das técnicas e das religiões, que nem são mais ao nível natural do pensamento estético. Com relação a esses modos, o pensamento estético aparece como primitivo; ele não pode fazê-los convergir por seu próprio exercício, e sua atividade serve somente de paradigma para orientar e sustentar o esforço do pensamento filosófico. Como o pensamento estético, o pensamento filosófico se situa no ponto neutro entre fases opostas; mas seu nível não é mais aquele da oposição primária resultante da defasagem da unidade mágica; ele é aquele da oposição secundária entre os resultados do desdobramento do pensamento técnico e do pensamento religioso. Ora, é necessário estudar esse desdobramento secundário, e todo particularmente aquele da atividade técnica, para saber como em se aplicando ao se tornar da tecnicidade, o pensamento filosófico pode desempenhar de maneira eficaz e inteira seu papel de convergência pós-estética.
O nível das modalidades primárias do pensamento (técnico, religioso e estético) se caracteriza pelo emprego somente ocasional da comunicação e da expressão; certamente, o pensamento estético é suscetível de ser comunicado, e as técnicas, as religiões mesmo podem ser, dentro de uma certa medida aprendidas, transmitidas, ensinadas. Dependendo é uma prova direta, necessitando de uma colocação em situação do sujeito, que essas formas primitivas de pensamento são transmitidas; os objetos que eles criam, suas manifestações, podem cair no senso comum, mas os esquemas de pensamento, as impressões e as normas que constituem esses pensamentos eles mesmos e os alimentam não são mais diretamente da ordem
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de expressão, podemos aprender um poema, contemplar uma obra pictural, mas não se aprende a poesia ou a pintura: o essencial do pensamento não é transmitido pela expressão, porque esses diferentes tipos de pensamento são mediações entre o homem e o mundo, e não dos encontros entre sujeitos: eles não supõem uma modificação de um sistema intersubjetivo.
Ao contrário, as modalidades secundárias do pensamento supõem comunicação e expressão, eles implicam possibilidade de um julgamento, nó da comunicação expressiva, e eles comportam, num próprio sentido, as modalidades, atitudes do sujeito em face do conteúdo de sua enunciação.
Ora, a tecnicidade introduz a certos tipos de julgamentos, e em particular ao julgamento teórico e ao julgamento prático, ou pelo menos a certos julgamentos teóricos e a certos julgamentos práticos.
Convém notar que a tecnicidade não é mais a única a engendrar por saturação o desdobramento das modalidades do pensamento comunicacional; o pensamento religioso também é uma base de julgamentos.
O desdobramento do pensamento técnico, como aquele do pensamento religioso, provém de um estado de supersaturação desse pensamento; ao nível primitivo, o pensamento técnico, mais que o pensamento religioso, não porta julgamentos; os julgamentos aparecem ao mesmo tempo em que as modalidades se diferenciam, porque as modalidades são modalidades do pensamento, e particularmente das modalidades da expressão, antes de serem modalidades de julgamento; o julgamento é só o ponto nodal da comunicação expressiva; é enquanto instrumento de comunicação que ele possui uma modalidade, porque a modalidade é definida pelo tipo de expressão; ela é a intenção expressiva que desdobra o julgamento; ele o faz aparecer; o julgamento concretiza a modalidade de expressão, mas ele não o esgota mais. [...]
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[...]
A ciência é conceitual não porque ela destina as técnicas, mas porque ela é um sistema de compatibilidade entre os gestos técnicos e os limites que o mundo impôs a esses gestos; se ela surge diretamente das técnicas, ela não será feita, a não ser de esquemas figurais, e não de conceitos. [...]
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As qualidades naturais, o Ϙύοεις, pensados como suportes dos gestos técnicos, constituem o tipo mais primitivo de conceitos, e marcam os inícios do pensamento cientifico indutivo.
O outro resultado dessa disjunção é o aparecimento de um pensamento prático não inserido na realidade, mas feito também de uma coleção de esquemas, separados uns dos outros por sua origem. [...]
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[...]
O emprego do número dentro das ciências pode ter origem religiosa, mais que origem técnica; o número, com efeito, é essencialmente estrutura que permite a dedução e permite apreender uma realidade particular dentro da sua referencia ao conjunto, para integrá-lo; é o número dos filósofos, definido por Platão, que opôs a métrica filosófica àquela dos mercadores, processo prático puro, que não permite identificar as relações entre os seres humanos e a totalidade, conhecido por Cosmos. Os números ideais são as estruturas que permitem a relação de participação. A crítica que faz Aristóteles das idéias-números dentro da Metafísica não retêm mais esta característica eminentemente estrutural das idéias-números de Platão, porque Aristóteles segue os padrões de pensamento indutivo, considerando os números através da operação de numerar; ou seja, o pensamento teórico que utiliza os números é essencialmente contemplativo, de origem religiosa. Ele não vai contar ou medir os seres, mas estimar o que eles são dentro da sua essência, com relação à totalidade do mundo; é porque ele se destina a pesquisar no número a estrutura essencial de cada coisa em particular. O pensamento religioso, caracterizado pela função de totalidade e de inspiração monista é a segunda fonte do saber teórico. Note-se que sua intenção é a de compreender as realidades figurais universais, uma ordem do mundo, uma economia de todo o ser; ele é a metafísica e não física dentro desta pesquisa, porque ele não visa mais, como o pensamento técnico dissociando uma acumulação indutiva de realidades de fundo locais, os poderes ou Ϙύοεις ; ele pesquisa as linhas estruturais universais, a figura do todo. Podemos supor que a pesquisa depois da fonte dedutiva do saber teórico não poderá jamais reencontrar completamente os resultados da pesquisa indutiva, porque estas etapas são fundadas uma sobre uma realidade de fundo e outra sobre uma realidade figural.
Dentro da ordem prática, o pensamento religioso faz nascer uma ética de obrigação, partindo de um princípio incondicional
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e descendente do princípio de regras particulares; ele tem analogia entre o monismo teórico e o monismo prático das formas de pensamento governadas pela religião; a ordem do mundo não pode ser outra que ele não é; ele é o contrário da virtualidade; ele é atualidade anterior a todo conhecimento que temos e mesmo a todo o futuro: a modalidade do conhecimento dedutivo teórico é a necessidade. À modalidade teórica de necessidade corresponde dentro da ordem prática a característica incondicional e única do imperativo, quer dizer, sua característica categórica; este imperativo de despachos. A maneira como Kant apresenta o imperativo categórico convém para definir o princípio da ética depois da religião, se Kant não tinha anexado o imperativo categórico para a universalidade da razão; o imperativo categórico religioso é categórico antes de ser racional; ele é desde o início, porque a totalidade do ser preexiste a toda ação particular e a supera infinitamente, como a realidade envelopa o ser particular que é o sujeito da ação moral. O caráter categórico do imperativo moral traduz a exigência com relação à particularidade do ser que age; o imperativo categórico é antes a respeito da totalidade; ele é feito da característica dada e auto-justificativa da realidade de fundo. Isto que diz respeito ao sujeito moral, dentro do imperativo categórico é o real enquanto totalidade que o supera infinitamente, condicionando e justificando sua ação porque ele a contém; toda ação particular está na totalidade; se instala sobre o fundo do ser e encontra sua normatividade nele. Ela não o constrói mais, nem o modifica: ela não pode mais do que se aplicar e se conformar. Está aí a segunda fonte da ética, se opondo à fonte técnica.
Podemos dizer também que existem duas fontes do pensamento teórico e duas fontes do pensamento prático: a técnica e a religião, tomadas no momento em que, ou elas se desdobram porque estão supersaturadas e encontraram, uma e outra um conteúdo de fundo e um conteúdo figural. O pensamento teórico recolhe o conteúdo de fundo das técnicas e o conteúdo figural das religiões: ele se torna assim, indutivo e dedutivo, operatório e contemplativo; o pensamento prático recolhe o conteúdo figural das técnicas e o conteúdo de fundo, das religiões, isto que lhe fornece normas hipotéticas e normas categóricas, pluralismo e monismo.
O saber completo e a moral completa estão no ponto de convergência dos modos de pensamento de dentro da ordem teórica e
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dentro da ordem prática, estas duas fontes opostas. Ora, isto é mais um conflito do que uma descoberta de unidade que aparece entre estas exigências opostas; nem o pensamento teórico, nem o pensamento prático chegarão a descobrir completamente um conteúdo que estará verdadeiramente no ponto de reencontro das duas direções de base. Mas estas direções agem como futuros normativos, em definição de modalidades únicas, podendo existir julgamento por julgamento, ato por ato.
Dentro da ordem teórica, esta modalidade sintética mediana é aquela da realidade; o real não é mais este que é primeiramente dado; é este no qual haveria o reencontro entre o saber indutivo e o saber dedutivo; é o fundamento da possibilidade deste reencontro e o fundamento correlativo da compatibilidade de um conhecimento pluralista e de um conhecimento monista; o real é a síntese do virtual e do necessário, ou melhor, o fundamento de sua compatibilidade; entre o pluralismo indutivo e o monismo dedutivo, ele é a estabilidade da relação figura-fundo tida como realidade completa.
Correlativamente, dentro da ordem prática, entre a modalidade optativa do pensamento prático após as técnicas e o imperativo categórico existe a categoria moral central, ao ponto de reencontro do optativo e da obrigação, entre o pluralismo dos valores práticos e o monismo do imperativo categórico; esta modalidade ainda não recebeu um nome, porque só com termos extremos (imperativos hipotéticos e imperativo categórico) tenham sido notados; portanto ele corresponde, dentro da ordem prática, à realidade dentro da ordem teórica; ele visa otimizar a ação e implica uma pluralidade possível de valores e a unidade de uma norma de compatibilidade. O ótimo é uma característica da ação que compatibiliza a pluralidade dos valores e a exigência incondicional da totalidade. O ótimo da ação postula uma convergência possível dos imperativos hipotéticos e do imperativo categórico, e o constitui esta compatibilidade, como a descoberta das estruturas do real compatibilizam o pluralismo indutivo e o monismo dedutivo.
Podemos dizer que o pensamento teórico e o pensamento prático se constituem dentro da medida ou eles realizam uma convergência para o centro neutro, redescobrem assim um análogo do pensamento mágico primitivo. Contudo, a unidade teórica e a unidade prática, postuladas pela existência das duas modalidades medianas do julgamento teórico e do julgamento prático (realidade e ótimo da ação) subsiste um hiato entre a ordem teórica e a ordem prática;
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a ruptura primitiva dissociante da unidade mágica em figura e fundo são substituídas pela característica bimodal do pensamento, dividido entre teoria e prática. Qualquer modo, teórico e prático, possui figura e fundo; mas é nisto que os dois coletaram o legado completo do pensamento mágico primitivo, modo completo de ser do homem no mundo. Porque a divergência do tornar-se pensamento se compensou inteiramente, de onde deveria acontecer que a distancia entre a ordem teórica e a ordem prática fosse atravessada por um tipo de pensamento com uma definitiva capacidade de síntese e podendo se apresentar como o análogo funcional da magia depois da atividade estática; dizendo de outro jeito, ele deveria retomar o patamar da relação do pensamento teórico e do pensamento prático, a obra que o pensamento estático transporta ao patamar da oposição primitiva entre técnica e religião. Este trabalho é reflexão filosófica que deve desempenhar.
Ora, porque a obra filosófica pode ser realizada, deve ser a base para esta reflexão ser firme e completa: temos que, em outras palavras, a gênese das formas teóricas e práticas de pensamento é total e completamente realizável porque o sentido da relação parece estabelecer. O pensamento filosófico deve então, para poder jogar sua regra de convergência, primeiro tomar consciência das gêneses anteriores, a fim de apreender as modalidades dentro da sua verdadeira significação, para poder determinar o verdadeiro centro neutro do pensamento filosófico; com efeito, o pensamento teórico e o pensamento prático estão ainda imperfeitos e incompletos; é sua intenção e sua direção que eles devem aproveitar; ou esta direção e esta intenção não serão mais dadas por um exame do conteúdo atual de qualquer destas formas de pensamento; é o sentido do formar-se de qualquer jeito, a partir de suas origens, que ele faz conhecer, porque o esforço filosófico toma a direção que é aquela que ele deve exercer. O pensamento filosófico deve reassumir a forma ao final do que ele intervém como força de convergência. Ele pode, por si mesmo operar uma conversão do pensamento técnico e do pensamento religioso em modos relacionais diante da dissociação que faz surgir o pensamento teórico e o pensamento prático; não existe qualquer prova de efeito que uma síntese viável possa se estabelecer entre estas formas de pensamento, se ele não tem mais um domínio comum de base preexistente à dissociação e, conectando o pensamento estético à filosofia, este modo médio pode ser chamado de cultura; a filosofia será assim construtiva e integrante da cultura
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refletindo o sentido das religiões e das técnicas, em conteúdo cultural. Tudo particularmente, ele teria a missão de introduzir na cultura as novas manifestações do pensamento técnico e do pensamento religioso: a cultura seria o ponto neutro, acompanhando a gênese dos diferentes tipos de pensamento e conservando o resultado do exercício das forças de convergência.
A aplicação de um esforço de convergência às formas recentes de pensamento elementar das técnicas e do pensamento das totalidades, matriz das religiões, é possível pelo fato de que estes dois tipos de pensamento se aplicam à mediação, não somente entre mundo e homem individual, mas entre o mundo geográfico e o mundo humano; estes dois tipos de pensamento têm da realidade humana a título de objeto e, se elaboram a partir desta nova carga; eles refratam da realidade humana em sentidos diferentes: esta comunidade do objeto pode servir de base à edificação de uma cultura pela intermediação da reflexão filosófica; existem técnicas do homem e, toda técnica é, dentro de certa medida, técnica do homem em grupo, porque o homem intervém dentro da determinação do conjunto técnico; a saturação da atividade técnica pode conduzir a uma estruturação, exceto que arrebente em modo teórico e modo prático do pensamento; o pensamento filosófico pode permitir ao pensamento técnico permanecer técnico por um tempo mais longo e mis completamente, a fim de tentar colocar em relação as duas fases opostas do homem se colocar no mundo, diante da dissociação do pensamento técnico e do pensamento religioso; o pensamento filosófico teria a missão de retomar o futuro, quer dizer, tornar mais lento, a fim de aprofundar seu sentido e torná-lo mais fecundo: a dissociação das fases fundamentais do pensamento em modos teóricos e em modos práticos pode ser prematura; o esforço filosófico pode conservar tecnicidade e religiosidade para descobrir sua convergência possível ao final de uma gênese que não teria conseguido espontaneamente sem a intenção genética do esforço filosófico. A filosofia se propõe assim, não somente a descoberta, mas a produção de essências genéticas.
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CONCLUSÃO
Há muito tempo, a realidade do objeto técnico passou para o segundo plano atrás do trabalho humano. O objeto técnico tem sido apreendido por meio do trabalho humano, pensado e julgado como instrumento, adjuvante, ou produto do trabalho. Ora, ele deveria, em favor do próprio homem, poder operar um retorno que permitiria àquilo que existe de humano dentro do objeto técnico aparecer diretamente, sem passar por meio da relação de trabalho. É o trabalho que deve ser conhecido como fase da tecnicidade, não a tecnicidade como fase do trabalho, poque é a tecnicidade que é o conjunto, onde o trabalho é uma parte, e não o inverso.
Uma definição naturalista do trabalho é insuficiente; dizer que o trabalho é exploração da natureza pelos homens em sociedade, é reduzir o trabalho a uma reação elaborada pelo homem primeiro como espécie diante da natureza à qual ele se adapta e determina. Não se trata aqui de saber se este determinismo dentro da relação natureza-homem é senso comum ou comporta uma reciprocidade; a hipótese de uma reciprocidade não muda o esquema de base, a saber o esquema de condicionamento e o aspecto reacional do trabalho. Agora é o trabalho que dá sentido ao objeto técnico, não o objeto técnico que dá o sentido ao trabalho.
Ora, dentro da perspectiva proposta, o trabalho pode ser visto como aspecto da operação técnica, que nunca se reduz ao trabalho. Existe trabalho somente quando o homem deve dar seu corpo como portador de ferramentas, quer dizer quando o homem estiver acompanhado pela atividade de seu organismo, de sua unidade psicossomática, a conduta etapa por etapa da relação homem-natureza. O trabalho é a atividade pela qual o homem realiza nele mesmo a mediação entre a espécie humana e a natureza, podemos dizer que, neste caso, o homem opera como portador de ferramentas porque dentro
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desta atividade ele age sobre a natureza e segue, passo a passo, gesto por gesto, esta ação. Há trabalho quando o homem não pode confiar ao objeto técnico a função de mediação entre a espécie e a natureza, e deve cumprir, ele mesmo, pelo seu corpo, seu pensamento, sua ação, esta função de relação. O homem apronta agora sua própria individualidade de ser vivo para organizar esta operação; assim ele se tornou portador de ferramentas. Ao contrário, assim que o objeto técnico está concretizado, a mistura entre natureza e homem se constitui em torno deste objeto; a operação sobre o ente técnico não é mais exatamente um trabalho. Com efeito, dentro do trabalho, o homem coincide com uma realidade que não é mais humana, se cola a esta realidade, desliza de todo jeito, entre a realidade natural e a intenção humana; o homem, dentro do trabalho, molda a matéria segundo uma forma; ele busca com esta forma, que é uma intenção de resultado, uma predeterminação que é necessária obter ao final da operação segundo as necessidades preexistentes. Esta forma-intenção não faz mais parte da matéria sobre a qual empregou o trabalho; ela exprime uma utilidade ou uma necessidade para o homem, mas seu destino não é mais da natureza. A atividade de trabalho é esta que faz a ligação entre a matéria natural e a forma, a proveniência humana; o trabalho é uma atividade que chega a fazer coincidir, para tornar sinérgicas, duas realidades tão heterogêneas quanto matéria e forma. Ora, a atividade de trabalho torna o homem consciente dos dois termos que ele coloca sinteticamente em relação, porque o trabalhador deve ter os olhos fixos sobre os dois termos que ele deve aproximar (é a norma do trabalho), não sobre a interioridade mesma da operação complexa pela qual esta aproximação foi obtida. O trabalho quer levar a relação para o perfil dos lucros.
Freqüentemente, em outros locais, a condição servil do trabalhador contribui para tornar mais obscura a operação, pela qual aquela matéria e forma são levadas a coincidir; o homem que comanda um trabalho se ocupa daquilo que deve figurar dentro de uma ordem dada, a título de conteúdo, e de matéria prima que é condição de execução, não da própria operação que permite que tome forma: a atenção se fixa sobre a forma e sobre a matéria, não sobre a tomada de forma enquanto operação. O esquema hilemórfico é assim um par dentro do qual os dois termos são líquidos e a relação obscura. O esquema hilemórfico, sob este aspecto particular, representa a transposição dentro do pensamento filosófico da operação técnica reduzida ao trabalho, e tomada como paradigma
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universal de gênese dos seres. É bem uma experiência técnica, mas uma experiência técnica muito incompleta, que está na base deste paradigma. A utilização generalizada do esquema hilemórfico na filosofia introduz uma obscuridade que vem da insuficiência da base técnica deste esquema.
Ele não é mais suficiente, com efeito, de entrar com o operário ou o escravo dentro do atelier, ou mesmo de pegar na mão o molde e de acionar o torno. O ponto de vista do homem que trabalha é ainda bem exterior à apreensão da forma, que é a única técnica nela mesma. ele deveria poder entrar dentro do molde com a argila, fazer-se molde e argila, viver e sentir sua operação comum para poder pensar na apreensão da própria forma. Porque o trabalhador elabora dois semi-canais técnicos que preparam a operação técnica: ele prepara a argila, a torna plástica e sem grumos, sem bolhas, e prepara correlativamente o molde; ele materializa a forma no fazer o molde de madeira, e torna a matéria provável, informável; pois ele coloca a argila dentro do molde e a aperta; mas é o sistema constituído pelo molde e pela argila prensada que é a condição da tomada da forma; é a argila que toma forma segundo o molde, não o trabalhador que lhe dá a forma. O homem que trabalha prepara sua mediação, mas ele não a completa; é a mediação que se completa nela mesma depois que as condições foram criadas; também, bem que o homem está muito próximo desta operação, ele não a conhece mais, seu corpo a empurra para que se cumpra, ele permite que se cumpra, mas a representação da operação técnica não aparece mais dentro do trabalho. É o essencial que falta, o centro ativo da operação técnica que permanece velado. Devido a todo o tempo que o homem praticou o trabalho sem utilizar os objetos técnicos, o saber técnico só pode ser transmitido sob a forma implícita e prática, por meio de hábitos e gestos profissionais: o saber motor é com efeito, aquele que permite a elaboração dos dois semi-canais técnicos, aquele que parte da forma e aquele que parte da matéria. Mas ele não vai e não pode ir mais longe: ele se decide diante da operação: ele não penetra dentro do molde. Na sua essência, ele é pré-técnico e não técnico.
O saber técnico consiste, ao contrário, a partir de quando se passa ao interior do molde para encontrar a partir do seu centro as diferentes elaborações que poderá preparar. Quando o homem não intervém mais como portador de ferramentas, ele pode se perder dentro da obscuridade no centro da operação; é com efeito este centro que
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deve ser produzido pelo objeto técnico, que não pensa mais, que não sente mais, que não adquira mais hábitos. Para construir o objeto técnico que funcionará, o homem necessita representar o funcionamento que coincide com a operação técnica, que a completa. O funcionamento do objeto técnico faz parte da mesma ordem de realidade, do mesmo sistema de causas e efeitos que a operação técnica; não tem mais heterogeneidade entre a preparação da operação técnica e do funcionamento desta operação; esta operação prolonga o funcionamento técnico como o funcionamento antecipa esta operação: o funcionamento é operação e a operação é funcionamento. Podemos falar do trabalho de uma máquina, mas somente de um funcionamento, que é um conjunto ordenado de operações. Forma e matéria, se elas existem ainda, estão no mesmo patamar, fazem parte do mesmo sistema; entre a técnica e o natural há continuidade.
A fabricação do objeto técnico não comporta mais esta zona obscura entre forma e matéria. O saber pré-técnico é assim pré-lógico, neste sentido, que ele constitui um par de termos sem descobrir a interioridade da relação (como dentro do esquema hilemórfico). Ao contrário, o saber técnico é lógico, no sentido que ele pesquisa a interioridade da relação.
Ora, será extremamente importante constatar que o paradigmatismo, este da relação de trabalho, é muito diferente daquele que surge da operação técnica, do saber técnico. O esquema hilemórfico faz parte do conteúdo de nossa cultura; ele foi transmitido depois da Antiguidade Clássica, e nós pensamos em muitas ocasiões como este esquema está perfeitamente fundado, não é mais relativo a uma experiência particular, pode ser abusivamente generalizado, mas co-extensivo à realidade universal. Ele deveria tratar a apreensão da forma como uma operação técnica particular; mais do que tratar todas as operações técnicas como casos particulares de tomada da forma, conhecida ela mesma obscuramente por meio do trabalho.
Neste sentido, o estudo do modo de existência dos objetos técnicos deverá ser prolongado para aquele dos resultados de seu funcionamento, e das atitudes do homem em face dos objetos técnicos. Uma fenomenologia do objeto técnico se prolongará assim em psicologia da relação entre homem e objeto técnico. Mas, dentro deste estudo, duas armadilhas devem ser evitadas, e é precisamente a essência da operação técnica que permite evitá-las:
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a atividade técnica não faz parte nem do domínio social puro nem do domínio psíquico puro. Ela é o modelo da relação coletiva, que não pode ser confundida com uma das duas precedentes; ela não é mais do mesmo modo e do mesmo conteúdo do coletivo, mas ela é do coletivo e, dentro de certos casos, é autora da atividade técnica que pode nascer do grupo coletivo.
Nós entendemos também por grupo social aquele que se constitui como os dos animais, segundo uma adaptação às condições do meio ambiente; o trabalho é este pelo qual o ser humano é mediador entre a natureza e a humanidade como espécie. Ao contrário, mas no mesmo patamar, a relação interpsicológica que coloca o indivíduo adiante do indivíduo, instituindo uma reciprocidade sem mediação. Ao contrário, pela atividade técnica, o homem cria as mediações e estas mediações são destacáveis do indivíduo que as produz e as pensa; o indivíduo se exprime nelas, mas não adere a elas; a máquina possui uma impersonalidade que faz com que ela possa se tornar instrumento para um outro homem; a realidade humana que ela cristaliza em si é alienável, precisamente porque ela é destacável. O trabalho adere ao trabalhador, e reciprocamente, por intermédio do trabalho, o trabalhador adere à natureza sobre a qual ele opera. O objeto técnico, pensado e construído pelo homem, não se limita somente a criar uma mediação entre homem e natureza; ele é um misto estável de humano e de natural, ele contem do humano e do natural; ele dá a seu conteúdo humano uma estrutura parecida àquela dos objetos naturais, e permite a inserção dentro do mundo das causas e dos efeitos naturais desta realidade humana. A relação do homem com a natureza, longe de ser somente vivida e praticada de maneira obscura, ganha um estatuto de estabilidade, de consistência, que faz dela uma realidade com suas leis e sua permanência ordenada. A atividade técnica, na construção do mundo dos objetos técnicos e na generalização da mediação objetiva entre homem e natureza, une o homem à natureza segundo uma ligação mais rica e melhor definida do que aquela da relação específica de trabalho coletivo. Uma convertibilidade do humano em natural e do natural em humano se institui por meio do esquematismo técnico.
A operação técnica, em vez de ser puro empirismo, constrói assim, um mundo estruturado, fazendo aparecer uma nova situação relativa, entre o homem e a natureza. A percepção corresponde a colocar diretamente em questão o ser humano pelo mundo natural. A ciência corresponde à mesma colocação em questão por meio do universo técnico. Pelo trabalho sem obstáculo, a sensação apenas; a
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[...] a ciência e a invenção técnica estão no mesmo patamar; é o esquema mental que permite invenção e ciência; é ele ainda que permite o uso do objeto técnico como produtivo, dentro de um conjunto industrial, ou como científico, dentro de uma montagem experimental. (SIMONDON, 1989: 247). [...]
[...] O objeto técnico apreendido por sua essência, quer dizer o objeto técnico enquanto foi inventado, pensado e desejado, assumido por um sujeito humano, se torna o suporte e o símbolo desta relação que gostamos de chamar transindividual. O objeto técnico pode ser lido como portador de uma informação definida; se ele é somente utilizado, empregado, e por conseqüência usado, ele pode conter mais alguma informação do que um livro que será usado como apoio ou pedestal. O objeto técnico apreciado e conhecido segundo sua essência, quer dizer, de acordo com o ato humano da invenção que o fundou, penetrado de inteligibilidade funcional, valorizado segundo suas normas internas, carrega com ele uma informação pura. Podemos nomear informação pura aquela que não é mais eventual, aquela que não pode ser que o sujeito que a receba suscite nele uma forma análoga às formas contidas pelo suporte da informação; esta que está contida dentro do objeto técnico, é a forma, cristalização material de um esquema processual e de um pensamento que resolveu um problema. Esta forma, por ser incluída, necessita de formas análogas dentro do sujeito: a informação não é mais um advento absoluto, mas a significação que resulta de uma relação de formas, de uma extrínseca a uma intrínseca com relação ao sujeito. Então, porque um objeto técnico é recebido como técnica e não mais somente como utilidade, porque ele é julgado como resultado
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de invenção, portador de informação e não como utensílio, é necessário que o sujeito que o recebeu tenha nele as formas técnicas. [...]
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[...] a noção de alienação merece ser generalizada, afim de que possamos situar o aspecto econômico da alienação; segundo esta doutrina (MARX), a alienação econômica se dá no patamar das superestruturas e supõe um fundamento mais implícito que é a alienação essencial à situação do ser individual dentro do trabalho.
Se esta hipótese é justa, a verdadeira vontade para reduzir a alienação não vai se situar nem no domínio do social (com a comunidade de trabalho e a classe), nem dentro do domínio das relações interindividuais que a psicologia social visa habitualmente, mas no patamar do coletivo transindividual. (SIMONDON, 1989: 249). O objeto técnico apareceu dentro de um mundo onde as estruturas sociais e os conteúdos psíquicos foram formados para o trabalho:o objeto técnico foi introduzido no mundo do trabalho, em vez criar um mundo com novas estruturas técnicas. A máquina continua sendo usada através do trabalho e não do saber técnico; a abordagem do trabalhador à máquina é inadequado, porque ele trabalha na máquina sem que seu gesto prolongue a atividade de invenção. (SIMONDON, 1989: 249). [...]
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[...] a máquina, com efeito, não tem mais que ser expressa dentro da existência a partir da sua construção, sem necessidade de retoques, de reparos, de regulagens. O esquema técnico original de invenção é mais ou menos bem realizado em qualquer exemplar, isto faz com que qualquer exemplar funcione mais ou menos bem.
É por referência não mais à materialidade e à particularidade de qualquer exemplar de um objeto técnico, mas com referência ao esquema técnico de invenção que regulagens e reparos são possíveis e eficazes; este que o homem recebe, não é mais o produto direto do pensamento técnico, mas um exemplar de fabricação cumprida com mais ou menos de precisão e perfeição a partir do pensamento técnico; este exemplar de fabricação é símbolo do pensamento técnico, portador de formas que devem reencontrar um sujeito para prolongar e completar o desempenho do pensamento técnico. O utilizador deve portar as formas porque, do reencontro de suas formas técnicas com as formas veiculadas pela máquina, e mais ou menos perfeitamente realizadas nela, surge a significação, a partir da qual o trabalho sobre um objeto técnico se transforma em atividade técnica e não simples trabalho. A atividade técnica se distingue do simples trabalho, e do trabalho alienante, na medida em que a atividade técnica comporta, não somente a utilização da máquina, mas também um certo coeficiente de atenção ao funcionamento técnico, manutenção, regulagem, melhoramento da máquina, que prolonga a atividade de invenção e construção. A alienação fundamental reside dentro da ruptura que se produz entre a ontogênese do objeto técnico e a existência deste objeto técnico. [...]
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[...] o gesto do trabalho se dirige para sua imediata utilidade. Mas a atividade técnica aderiu à realidade, somente depois de uma longa elaboração; ela é baseada em leis, não é improvisada; porque as receitas técnicas são eficazes, elas devem chegar à realidade segundo as leis da própria realidade; neste sentido, as técnicas são objetivas, apesar de todos os aspectos de utilidade que elas podem apresentar. (SIMONDON, 1989: 255).
Tradução parcial do livro, por Leonora Fink.
SIMONDON, Gilbert. Du mode d'existence des objets techniques. Paris: Aubier, 1989.
Fink, Leonora. Tradução parcial do livro.
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Introdução
Este estudo se inicia pela intenção de suscitar uma tomada de consciência do sentido dos objetos técnicos. A cultura se constituiu em sistema de defesa contra as técnicas; ora, esta defesa se apresenta como uma defesa do homem, supondo que os objetos técnicos não contem mais da realidade humana. Nós queremos mostrar que a cultura ignora, dentro da realidade técnica uma realidade humana, e que, para desempenha seu papel completo, a cultura deve incorporar os entes técnicos sob a forma de conhecimento e de senso de valores. A tomada de consciência dos modos de existência dos objetos técnicos deve ser efetuada pelo pensamento filosófico, que se consegue por respeitar dentro desta obra um devir análogo àquele desempenhado pela abolição da escravatura e a afirmação do valor da pessoa humana.
A oposição desenhada entre a cultura e a técnica, entre o homem e a máquina é falsa e sem fundamento; ela não passa de ignorância ou ressentimento. Ela esconde por trás um fácil humanismo uma realidade rica em esforços humanos e em forças naturais, e que constitui o mundo dos objetos técnicos, mediadores entre a natureza e o ser humano.
A cultura se conduz para o objeto técnico como o ser humano para com o estrangeiro quando ele deixar prevalecer a xenofobia primitiva. O misoneísmo orientado contra as máquinas não é tanto ódio do novo que recusa a realidade estrangeira. Ora, este ente estrangeiro é ainda um ser humano e a cultura completa é a que permite descobrir o estrangeiro como humano. Bem, a máquina é o estrangeiro; é o estrangeiro bloqueado nos seres humanos, desconhecido, servil, mas mesmo assim, ainda do humano. A causa mais forte de alienação dentro do mundo contemporâneo reside dentro deste meio conhecimento da máquina, que não é mais uma alienação causada pela máquina, mas pelo não conhecimento de sua
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natureza e nem de sua essência, pela sua exclusão do mundo das significações e pela sua omissão dentro da tabela de valores e de conceitos integrantes da cultura.
A cultura é desequilibrada porque ela reconhece certos objetos, como o objeto estético, e lhes dá liberdade dentro da cidade dentro do mundo dos significados, ao mesmo tempo em que rejeita outros objetos, em particular os objetos técnicos, dentro do mundo sem estrutura, em que não possuem significados, mas somente um uso, uma função útil. Frente a esta recusa defensiva, pronunciada por uma cultura parcial, os seres humanos que conhecem os objetos técnicos e sabem seu significado procuram justificar seu julgamento dando ao objeto técnico o mesmo estatuto atualmente valorizado, aquele do objeto estético, aquele do objeto sagrado, ao invés do seu próprio valor. então nasce um tecnicismo intemperante que não é mais que uma idolatria da máquina e, através desta idolatria, por meio de uma identificação, uma aspiração tecnocrática ao poder incondicional. O desejo de posse consagra a máquina como meio de supremacia e faz dela a poção mágica moderna. O ser humano que pretende dominar seus semelhantes desperta a máquina andróide. Ele abdica então diante dela e lhe delega sua humanidade. Ele procura construir a máquina que pensa, sonhando construir a máquina voadora, a máquina viva, para continuar atrás dela sem angústia, livre de todo perigo, isento de todo sentimento de fraqueza e, triunfante imediatamente por aquilo que ele inventou. Ora, neste caso, a máquina se torna, segundo a imaginação, o duplo do homem que é o robô, desprovido de interioridade representa obviamente bem evidente e inevitável um ser puramente mítico e imaginário.
Nós queremos precisamente mostrar que o robô não existe mis, que ele não é mais uma máquina, tanto quanto uma estátua não é um ser vivente, mas somente um produto d imaginação e de fabricação fictícia, da arte da ilusão. Portanto, a noção da máquina que existe dentro da cultura atual incorpora dentro de uma grande medida esta representação mítica do robô. Um homem culto não se permitiria mais falar dos objetos ou dos personagens pintados sobre uma tela como verdadeiras realidades, portadores de interioridade, uma boa ou má vontade. este mesmo homem fala, portanto, das máquinas que ameaçam o homem como se ele atribuísse a seus objetos uma alma e uma existência separada, autônoma, o que lhe confere o uso de sentimentos e intenções contra o ser humano.
A cultura inclui assim duas atitudes contraditórias para os objetos técnicos: de um lado, ela os trata como puras
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montagens de matéria desprovidas de qualquer significação, e apresentando somente uma utilidade. De outra parte, ela supõe que estes objetos são também robôs e que eles são animados de intenções hostis contra o ser humano, ou representam para ele um permanente perigo de agressão, de insurreição. Julgando bom conservar a primeira característica, ele pretende impedir a manifestação da segunda e fala de colocar as máquinas a serviço do homem, acreditando encontrar dentro da redução à escravidão, uma certa forma de prevenir toda rebelião.
De fato, esta contradição inerente à cultura é proveniente da ambigüidade das idéias relativas ao automatismo, nas quais cabe uma verdadeira falta de lógica. Os idólatras da máquina apresentam em geral, o grau de perfeição de uma máquina como proporcional ao grau de automatismo. Além do que a experiência mostra, eles assumem que um crescimento e uma melhoria do automatismo chegará a reunir todas as máquinas entre si, de maneira a constituir uma máquina de todas as máquinas.
Ora, de fato, o automatismo é justamente um baixo grau de perfeição técnica. Para tornar uma máquina automática, deve-se sacrificar algumas possibilidades de funcionamento, também usos possíveis. O automatismo e sua utilização sob a forma de organização industrial que tem o nome de automação, possui uma significação econômica ou social, mais que uma significação técnica. O verdadeiro aperfeiçoamento das máquinas, o que podemos dizer que aumenta o grau de tecnicidade, corresponde não mais a maior automatização, mas ao contrário, ao fato de que o funcionamento de uma máquina detém um certo grau de indeterminação. É esta margem que permite à máquina de ser sensível a uma informação exterior. É por esta sensibilidade das máquinas à informação que um conjunto técnico pode se realizar, bem mais do que pelo aumento do automatismo. Uma máquina puramente automática, completamente fechada sobre ela mesma dentro de um funcionamento predeterminado, não poderá apresentar mais do que resultados sumários. A máquina dotada de alto grau de tecnicidade é uma máquina aberta, e o conjunto das máquinas abertas supõe o homem como organizador permanente, como um intérprete vivente das máquinas, uns com relação ao outros. Longe de ser o vigia de uma tropa de escravos, o homem é o organizador permanente de uma sociedade dos objetos técnicos que precisam dele como os músicos precisam do maestro. O maestro não pode dirigir os músicos a não ser que ele interaja com eles, na mesma
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intensidade do que eles todos, na execução da peça; ele os modera ou os apressa, mas é também moderado e apressado por eles; de fato, por meio dele, o grupo de músicos modera e apressa qualquer um deles, ele é para cada um a forma movente e atual do grupo existente; ele é o intérprete mútuo de todos com relação a todos. Assim o ser humano tem por função ser o coordenador e o inventor permanente das máquinas que estão ao seu entorno. Ele está entre as máquinas que operam com ele.
A presença do homem nas máquinas é uma invenção perpetuada. Isto que reside dentro das máquinas é da realidade humana, do gesto humano fixado e cristalizado em estruturas que funcionam. Estas estruturas precisam ser sustentadas no curso de seu funcionamento, e a maior perfeição coincide com a maior liberdade de funcionamento. As máquinas de calcular modernas não são mais puros autômatos; elas são entes técnicos que, apesar de seus automatismos de cálculo (ou de decisão por funcionamento de basculantes elementares), possuem vastas possibilidades de comutação de circuitos, que permitem codificar a operação da máquina em restrição de sua margem de indeterminação. É graças a esta margem primitiva de indeterminação que a mesma máquina pode extrair raízes cúbicas ou traduzir um texto simples composto com um pequeno número de palavras e de movimentos, de uma língua a uma outra.
É ainda por meio desta margem de indeterminação e não pelos automatismos que as máquinas podem ser agrupadas em conjuntos coerentes, trocar informação umas com as outras pela intermediação do coordenador que é o intérprete humano. Mesmo quando a troca de informação é direta entre duas máquinas (como entre um oscilador piloto e um outro oscilador sincronizado por impulsos) o homem intervém como ser que regula a margem de indeterminação para que ela se adapte à melhor troca possível de informação.
Ora, podemos perguntar como o homem pode realizar nele a tomada de consciência da realidade técnica e introduzi-la dentro da cultura. Esta tomada de consciência dificilmente será realizada por aquele que está empenhado em uma única máquina através de trabalho e os gestos cotidianos repetitivos; a relação de uso não é favorável à tomada de consciência, porque são recomeços habituais, dentro da estereotipia dos gestos adaptados à consciência das estruturas e dos funcionamentos. O fato de governar uma empresa utilizando as
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máquinas, ou a relação de propriedade, não é mais útil do que o trabalho para esta tomada de consciência: ele cria pontos de vista abstratos sobre a máquina, julgados por seu preço e os resultados de funcionamento mais do que nela mesma. O conhecimento científico que vê dentro de um objeto técnico a aplicação prática de uma lei teórica, não é também pelo grau de domínio técnico. Esta tomada de consciência poderia de fato ser bastante pelo engenheiro da organização que seria como o sociólogo e psicólogo das máquinas, vivendo em meio a esta sociedade de objetos técnicos onde ele é a consciência responsável e inventiva.
Uma verdadeira tomada de consciência das realidades técnicas apreendidas de dentro do seu significado corresponde a uma pluralidade aberta de técnicas. Ele também pode ir para outra, mesmo porque um conjunto técnico que pode ser entendido compreende as máquinas, nos seus princípios de funcionamento relevantes, de domínios científicos muito diferentes. A especialização dita técnica corresponde, na maior parte das vezes às preocupações exteriores aos objetos técnicos propriamente ditos (relações com o público, forma particular de comércio), e não a uma espécie de esquemas de funcionamento embutidos dentro dos objetos técnicos; é a especialização, segundo as direções exteriores às técnicas, que cria a estreiteza de visão, atribuída aos técnicos pelo homem culto, que pensa ser diferente deles: ele se agita numa estreiteza de intenções, de fins, mais que de uma estreiteza de informação ou de intuição das técnicas. Muito raras são, em nossos dias, as máquinas que não são mais, em qualquer medida, mecânicas, térmicas e elétricas, de uma só vez.
Para dar novamente à cultura a característica verdadeiramente geral que ela perdeu, o que deve ser possível ao se reintroduzir nela a consciência da natureza das máquinas, das suas relações mútuas e de suas relações com o ser humano e dos valores implicados, dentro destas relações. Esta tomada de consciência necessita da existência, com incumbências do psicólogo e do sociólogo, do tecnólogo ou mecanólogo. Além disto, os esquemas fundamentais de causalidade e de regulação, que constituem uma axiomática da tecnologia, devem ser ensinados universalmente, como são ensinados os fundamentos da cultura literária. A iniciação às técnicas deve ser baseada sobre o mesmo plano do que a educação científica; ela é tão desinteressada quanto a prática das artes, e domina todas as aplicações práticas que a física teórica; ela pode atender o mesmo grau de abstração e de simbolização. Uma criança deverá saber o que é uma
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auto-regulação ou uma reação positiva como ele conhece os teoremas matemáticos.
Esta reforma da cultura, procedente pelo crescimento e não por destruição, poderá dar novamente à cultura atual o poder regulador verdadeiro que ela perdeu. Baseada em significações, em recursos de expressão, de justificações e das formas, uma cultura estabilizada entre aqueles que possuem uma comunicação reguladora; deixando a vida do grupo, ela anima os gestos das pessoas que o exercício das funções de comando, no fornecimento das normas e dos esquemas. Ora, diante do grande desenvolvimento das técnicas, a cultura incorpora como padrões os esquemas, os símbolos, as qualidades, as analogias, os principais tipos de técnicas, dando origem a uma experiência de vida. Ao contrário, a cultura atual é a cultura anciã, incorporando como esquemas dinâmicos os estatutos das técnicas artesanais e agrícolas dos séculos passados. E são estes esquemas que servem de mediadores entre os grupos e seus chefes, impondo, devido à sua inadequação às técnicas, uma distorção fundamental. O poder se torna literatura, arte de opinião, advocacia sobre semelhantes verdades, retórica. As funções diretrizes são falsas porque não existe mais, entre a realidade governada e os que governam um código adequado de relações: a realidade governada comporta os homens e as máquinas; o código é baseado na experiência do ser humano trabalhando com ferramentas, ele mesmo enfraquecido e longínquo porque aqueles que utilizaram este código não vivem mais, como Cincinnatus, da liberdade das correias dos arados. O símbolo se enfraquece em simples troca de linguagem, o real está ausente. Uma relação reguladora de causalidade circular não pode se estabelecer entre o conjunto da realidade governada e a função de autoridade: a informação não faz mais porque o código se tornou inadequado ao tipo de informação que ele deve transmitir. Uma informação que exprimirá a existência simultânea e correlativa dos homens e das máquinas deve comportar os esquemas de funcionamento das máquinas e dos valores que eles implicam. O fato que a cultura se tornar geral novamente, enquanto se especializa e empobrece. Esta extensão da cultura, suprimindo uma das principais fontes de alienação e recuperação da informação reguladora, possui um valor político e social: ela pode dar ao homem as condições para pensar sua existência e sua situação em função da realidade ao seu entorno. Esta obra de crescimento e de aprofundamento da cultura tem também um papel propriamente filosófico a desempenhar, uma vez que conduz à crítica de um certo número de mitos
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e de estereótipos, como aquele do robô, ou dos autômatos perfeitos ao serviço de uma humanidade preguiçosa e exausta.
Para operar esta tomada de consciência, é possível buscar a definição do objeto técnico nele mesmo, pelo processo de concretização e de superdeterminação funcional que ele dá sua consistência ao termo de uma evolução, provando que ele não pode ser considerado somente como uma utilidade. As modalidades desta gênese permitem apreender as três etapas do objeto técnico e suas coordenação temporal não dialética: o elemento, o indivíduo, o conjunto.
O objeto técnico se define por sua gênese, é possível estudar as relações entre o objeto técnico e as outras realidades, em particular o ser humano à idade adulta e a criança.
Enfim, considerado como objeto de um julgamento de valores, o objeto técnico pode suscitar atitudes muito diferentes daquela que ele recebe no patamar de elemento, no patamar de indivíduo ou no patamar do conjunto. No patamar do elemento seu aperfeiçoamento não introduz nenhuma convulsão causando ansiedade por conflito com hábitos adquiridos: é o clima de otimismo do século XVIII, introduzindo a idéia de um progresso contínuo e indefinido, chegando a uma melhora constante do destino do ser humano. Ao contrário, o indivíduo técnico, por um tempo, passa a ser inimigo do homem, seu concorrente, porque o homem centraliza nele a individualidade técnica numa altura em que existiam apenas as ferramentas; a máquina toma o lugar do homem porque o homem desempenha uma função de máquina, de portador de ferramentas. A esta fase corresponde uma noção dramática e passional do progresso se tornando violação da natureza, conquista do mundo, captação de energias. Esta vontade de possuir se exprime por meio da desmedida tecnicista e tecnocrática da era da termodinâmica, em que há um retorno à fé profética e cataclísmica. Enfim, na etapa dos conjuntos técnicos do século XX, a energia termodinâmica é trocado pela teoria da informação, onde o conteúdo normativo é eminentemente regulador e estabilizador: o desenvolvimento das técnicas aparecerá como uma garantia de estabilidade. a máquina como elemento do conjunto técnico, se torna esta que aumenta a quantidade de informação, aquela que aumenta a entropia negativa, esta que se opõe à degradação da energia: a máquina, obra da organização, de informação é como a vida e com a vida, esta que se opõe à desordem, ao nivelamento de todas as coisas tendendo a privar o universo do poder de transformação. A máquina é esta pela qual
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o ser humano se opõe à morte do universo; ela atrasa, como a vida, a degradação da energia, e se torna estabilizadora do mundo.
Esta modificação do olhar filosófico sobre o objeto técnico anuncia a possibilidade de uma introdução do este técnico dentro da cultura: esta integração que não poderia ter lugar nem no patamar de elementos, nem no patamar de indivíduos de maneira definitiva, poderá com mais chances de estabilidade no patamar dos conjuntos; a realidade técnica se torna reguladora poderá se integrar à cultura, reguladora por essência. Esta integração só poderia ser feita através da adição do tempo em que residia nos elementos técnicos, por efração e revolução ao tempo onde a tecnicidade residia dentro dos novos indivíduos técnicos; hoje em dia, a tecnicidade tende a residir dentro dos conjuntos; ela pode ainda se tornar um fundamento da cultura à qual ele acrescentará um poder de unidade e estabilidade, tornando-a adequada à realidade que ela exprime e que ela regula.
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Primeira Parte
Gênese e evolução dos objetos técnicos.
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I – Objeto técnico abstrato e objeto técnico concreto
O objeto técnico é submetido a uma gênese, mas é difícil definir a gênese de qualquer objeto técnico porque a individualidade dos objetos técnicos se modifica no curso da gênese; dificilmente se pode definir os objetos técnicos por seu pertencimento a uma espécie técnica; as espécies são fáceis de distinguir sumariamente , pelo uso prático, tanto que se aceita definir o objeto técnico pelo fim prático a que ele responde; mas ele se encontra além de uma especificidade ilusória, onde alguma estrutura fixa não corresponde a um uso definido. Um mesmo resultado pode ser obtido a partir de funcionamentos e de estruturas muito diferentes: um motor a vapor, um motor a gasolina, uma turbina, um motor aparente ou a peso são todos igualmente motores; portanto, existe mais do que analogia real entre um motor aparente e um arco ou uma besta que entre este mesmo motor e um motor a vapor; um relógio a peso possui um motor análogo a um guincho, enquanto que um relógio com manutenção elétrica é análogo a uma campainha ou a um vibratório. O uso reunido das estruturas e dos funcionamentos heterogêneos subgêneros e espécies que tiram seu significado da relação entre seu funcionamento e um outro funcionamento, aquele do ser humano dentro da ação. Deste jeito, este ao qual damos um nome único, como por exemplo, aquele do motor, pode ser múltiplo em um momento e pode variar dentro do tempo de mudança de individualidade.
Dependendo, ao invés de partir da individualidade do objeto técnico, ou mesmo de sua especificidade, que é muito instável, para tentar
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definir as leis da sua gênese dentro do quadro desta individualidade ou desta especificidade é preferível inverter o problema: é a partir dos critérios da gênese que podemos definir a individualidade e a especificidade do objeto técnico: o objeto técnico individual não é para esta tal ou aquela coisa, dada hic et nunc, mas onde há gênese (1). a unidade do objeto técnico, sua individualidade, sua especificidade, são as características de consistência e de convergência de sua gênese. a gênese do objeto técnico faz parte de seu ser. O objeto técnico é este que não é mais anterior ao seu devir, mas presente a qualquer etapa de seu devir; o objeto técnico é para se tornar unidade. O motor a gasolina não é mais tal e tal motor dado dentro do tempo e dentro do espaço, mas o fato é que há uma continuidade que varia dos primeiros motores àqueles que nós conhecemos e que são ainda em evolução. Tem este título, como dentro de uma linha filogenética, um estado definido de evolução contem nele as estruturas e os esquemas dinâmicos que são o princípio de uma evolução das formas. O ente técnico evolui por convergência e por adaptação a si mesmo; ele se unifica interiormente segundo um princípio de ressonância interna. O motor do automóvel de hoje não é o descendente do motor de 1910, somente porque o motor de 1910 é aquele construído pelos nossos ancestrais. Ele não é mais seu descendente porque ele é mais perfeito relativamente ao uso; de fato, por tal e tal uso, um motor de 1910 ainda é superior a um motor de 1956. Por exemplo, ele pode suportar um aquecimento importante sem travar ou fundir, tendo sido construído com grandes jogos mais importantes e sem ligas frágeis como regulagens; ele é mais autônomo, possuindo uma ignição por magneto.
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Dos antigos motores funcionando sem defasagem nos barcos de pesca, depois de ter estado sobre um automóvel horas de uso. É por um exame interior dos regimes de causalidade e das formas enquanto elas são adaptadas a estes regimes de causalidade que o motor do automóvel atual é definido como posterior ao motor de 1910. Dentro de um motor atual, qualquer peça importante é inscrita na outra pelas trocas recíprocas de energia que ela não pode ser outra a não ser a que ela é. A forma do ambiente de explosão, a forma e as dimensões das válvulas a forma do pistão fazem parte de um mesmo sistema, dentro do qual existem múltiplas causalidades recíprocas. A cada forma dos elementos corresponde uma certa taxa de compressão, que exige ela mesma um grau determinado de avanço da ignição; a forma do cabeçote, o metal do qual é feito em relação com todos os outros elementos do ciclo, produzem uma certa temperatura dos eletrodos da frente das válvulas; [...]
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[...]
Nós supomos que a tecnicidade resulte de uma defasagem de um jeito único, central e original de ser no mundo, o procedimento mágico; a fase que equilibra a tecnicidade é o da conduta religiosa. Ao ponto neutro, entre técnica e religião, aparece ao momento de desdobramento da unidade mágica primitiva o pensamento estético: ele não é mais uma fase, mas uma sensibilidade permanente da ruptura da unidade do procedimento mágico, e uma pesquisa da unidade futura. (SIMONDON, 1989:160).
[...]
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II. – A defasagem da unidade mágica primitiva
É ainda da unidade mágica primitiva das relações do homem com o mundo que se deve partir para compreender a verdadeira relação das técnicas com as outras funções do pensamento humano; é por este exame que é possível apreender porque o pensamento filosófico deve realizar a integração da realidade das técnicas à cultura, que é possível identificando o significado da gênese das técnicas, pela fundação de uma tecnologia; então se atenuará a disparidade que existe entre técnicas e religião, nocivas à intenção de síntese reflexiva do saber e da ética. A filosofia deve basear a tecnologia, que é o ecumenismo das técnicas, porque as ciências e a ética podem se reencontrar dentro da reflexão, temos que uma unidade das técnicas e uma unidade do pensamento religioso precedem o desdobramento de qualquer uma das formas de pensamento de modo teórico e modo prático. (SIMONDON, 1989: 162).
[...]
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[...] a mediação entre o ser humano e o mundo se objetiva no objeto técnico como ela se subjetiva no mediador religioso; mas esta objetivação e esta subjetivação opostas e complementares são precedidas por uma primeira etapa da relação com o mundo, a etapa mágica, dentro da qual a mediação não é mais nem subjetivada nem objetivada, nem fragmentada nem universalizada, e não é mais que a mais simples e mais fundamental das estruturações de um ser vivo: o nascimento de uma rede de pontos privilegiados de trocas entre o ser e seu meio. (SIMONDON, 1989: 164).
[...]
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[...]
Ora, o pensamento mágico é o primeiro, porque ele corresponde à estruturação mais simples, a mais concreta, a mais vasta e mais flexível: aquela da reticulação. Dentro da totalidade constituída pelo homem aparecerá como primeira estrutura uma rede de pontos privilegiados realizando a inserção do esforço humano e, através dos quais se efetuam as trocas entre o homem e o mundo. Cada ponto singular concentra em si a capacidade de comandar a uma parte do mundo que ele representa particularmente e onde ele traduz a realidade, dentro da comunicação com o homem. Poderemos chamar estes pontos singulares de pontos-chave comandando a relação homem-mundo, de maneira reversível, porque o mundo influencia o homem como o homem influencia o mundo. Estes são os cumes das montanhas ou certos desfiladeiros, naturalmente mágicos, porque eles governam um país. O coração da floresta, o centro de uma planície não são mais somente realidades geográficas metaforicamente ou geometricamente desenhadas: eles são realidades que concentram os porvires naturais como eles focalizam o esforço humano: eles são as estruturas figurais com relação à massa que os suporta, e que constitui seu fundo. (SIMONDON, 1989: 165).
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Dentro da vida civilizada atual, as vastas instituições concernem ao pensamento mágico, mas são escondidos pelos conceitos utilitários que os justificam indiretamente; eles são em particular os feriados, as festas, as férias, que compensam pela carga mágica a perda de porvir mágico que a vida civilizada urbana impõe. Assim, as viagens de férias, consideradas como para obter descanso e distração, são de fato uma busca de pontos-chave anciãos ou novos; estes pontos podem ser a cidade grande para o rural, ou o campo para o citadino, mas geralmente não importa que ponto da cidade ou do campo; é o rio ou a alta montanha, ou ainda a fronteira que ele vai cruzar para entrar em país estrangeiro. As datas dos feriados são relativas aos momentos privilegiados do tempo; algumas vezes pode existir um reencontro entre os momentos singulares e os pontos singulares.
Ora, o tempo corrente e o espaço corrente servem de fundo a estas figuras; dissociadas do fundo, as figuras perderiam sua significação; feriados e celebrações não são mais uma reposição com relação à vida corrente, mas uma procura dos lugares e das datas privilegiadas com relação ao fundo contínuo. (SIMONDON, 1989: 167)
[...]
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Capítulo II
Relações entre o pensamento técnico e as outras espécies de pensamento.
I. Pensamento técnico e pensamento estético.
De acordo com esta hipótese genética, não se deve considerar os diferentes modos de pensamento como paralelos uns aos outros; assim, não se pode comparar o pensamento religioso e o pensamento mágico porque eles não estão em um mesmo plano; mas, ao contrario, é possível comparar o pensamento técnico e o pensamento religioso, porque eles são contemporâneos um do outro; para compará-los, não é suficiente determinar suas características particulares, como se eles fossem espécies de um gênero; temos de retomar o desempenho genético de sua formação, porque eles existem como par, como resultado do desdobramento de um pensamento completo primitivo, o pensamento mágico. Quanto ao pensamento estético, ele não é jamais de um domínio limitado, nem de uma espécie determinada, mas somente de uma tendência; ele é esse que mantém a função de totalidade. Nesse sentido, ele pode ser comparado ao pensamento mágico, desde que se diga que ele não contém mais, como o pensamento mágico, uma possibilidade de desdobramento em técnica e religião; para ir longe na direção do desdobramento, o pensamento estético é esse que mantém a memória implícita da unidade; de uma das fases de desdobramento, ele chama a outra fase complementar; ele busca a totalidade do pensamento e visa à recompor uma unidade pela relação analógica lá, onde o aparecimento das fases poderá criar o isolamento mútuo do pensamento com relação a ele mesmo.
Sem dúvida, uma maneira parecida de considerar o esforço estético levará à falsidade se quisermos caracterizá-lo pela sorte das obras de arte que existem no estado institucional dentro de uma civilização dada, e bem mais agora, se quisermos definir a essência
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da estética. Mas, porque as obras de arte são possíveis, o fato que elas são tornadas possíveis por uma tendência fundamental do ser humano, e pela capacidade de testar em certas circunstancias reais e vitais a impressão estética.
A obra de arte faz parte que uma civilização utilize a impressão estética e satisfaça, algumas vezes artificialmente e de maneira ilusória, a tendência do homem de procurar, quando ele exerce um certo tipo de pensamento, o complemento com relação à totalidade. Será insuficiente dizer que a obra de arte manifesta a nostalgia do pensamento mágico; de fato, a obra de arte profere o equivalente do pensamento mágico, porque ela tenha encontrado, a partir de uma situação dada, e de acordo com uma relação analógica estrutural e qualitativa, uma continuidade universalizante com relação a outras situações e a outras realidades possíveis. A obra de arte refaz um universo reticular pelo menos para a percepção. Mas a obra de arte não reconstrói realmente o universo mágico primitivo: esse universo estético é parcial, inserido e contido dentro do universo real e atual resultante do desdobramento. Na verdade, a obra de arte mantém, sobretudo, e preserva, a capacidade de experimentar a impressão estética, tal como a linguagem possibilita a capacidade de pensar sem, no entanto, ser o pensamento.
[...]
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O caráter estético de um ato ou de uma coisa é sua função de totalidade, sua existência, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva, como ponto remarcável. Todo ato, toda coisa, todo momento têm neles uma capacidade de se transformarem nos pontos remarcáveis de uma nova reticulação do universo. Cada cultura seleciona alguns dos atos e algumas das situações que são aptas a se transformarem em pontos remarcáveis; mas não é a cultura que cria a capacidade de uma situação se transformar em um ponto remarcável; ela coloca somente barreiras a certos tipos de situação, deixando à impressão estética apenas algumas vias estreitas em comparação com a espontaneidade da impressão estética; a cultura intervém como limite, mais do que como criadora.
O destino do pensamento estético, ou mais exatamente da inspiração estética de todo pensamento tendendo à sua conclusão, é reconstituir ao interior de cada modo de pensamento uma reticulação que coincide com a reticulação dos outros modos de pensamento: a tendência estética é o ecumenismo do pensamento. Nesse sentido, além mesmo da maturidade de qualquer um dos gêneros de pensamento, intervém uma reticulação final que aproxima os pensamentos separados provenientes da quebra da magia primitiva. O primeiro estado de desenvolvimento de cada pensamento é o isolamento, a não aderência ao mundo, a abstração. [...]
[...] As técnicas, antes de haverem mobilizado e destacado do mundo as figuras esquemáticas do mundo mágico, retornam para o mundo para se aliarem a ele pela coincidência do cimento e da pedra, do cabo e do vale, do pilotis e da colina; uma nova reticulação, selecionada pela técnica, se institui dando privilégio a certos lugares do mundo, dentro de uma aliança sinérgica, híbrida dos esquemas técnicos e dos poderes naturais. Aparece a impressão estética, dentro desse acordo e dessa passagem da técnica que se torna de novo concreta, inserida, ligada ao mundo pelos pontos chaves mais remarcáveis. A mediação entre o homem e o mundo se torna ela mesma um mundo, a estrutura do mundo. Bem, a mediação religiosa, antes do dogmatismo solto do concreto do universo e mobilizando qualquer dogma para conquistar todo representante da espécie humana, aceita se concretizar, quer dizer de se
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mesclar a qualquer cultura e a qualquer grupo humano de acordo com as modalidades relativamente pluralistas; a unidade se transforma em unidade de uma rede em vez de ser unidade monista de um único princípio e de uma única fé.
A maturidade das técnicas e das religiões tende para a reincorporação ao mundo, geográfico para asa técnicas, humano para as religiões.
[...] A impressão estética, comum ao pensamento religioso e ao pensamento técnico, é o único ponto que pode permitir religar essas duas metades do pensamento resultante do abandono do pensamento mágico.
O pensamento filosófico pode ainda, desse jeito, para saber como ele deve tratar a disponibilização das técnicas e da religião ao nível de distinção das modalidades teóricas e práticas, se perguntar como a atividade estética trata essa disponibilização ao nível precedente à distinção dessas modalidades. Essa que se rompeu dentro da passagem da magia às técnicas e à religião é a primeira estrutura do universo, a saber a reticulação dos pontos principais, mediação direta entre o homem e o mundo. Ora, a atividade estética preserva precisamente essa estrutura de reticulação. Ela não pode preservá-la realmente dentro do mundo, pois ela não pode substituir as técnicas e a religião, isso que seria recriar a magia. Mas ela a preserva na construção de um mundo dentro do qual ela pode continuar a existir, e que é ao mesmo tempo técnico e religioso; ele é técnico porque ele é construído ao invés do ser natural, e que ele utiliza o poder da aplicação dos objetos técnicos ao mundo natural para fazer o mundo da arte; ele é religioso no sentido de que esse mundo incorpora as forças, as qualidades, as características de fundo que as técnicas deixam de fora; em vez de as subjetivar como o faz o pensamento religioso ao os universalizar, em vez de os objetivar fechando-os dentro do útil ou do instrumento, como o faz o pensamento técnico, operando sobre as estruturas figurais dissociadas, o pensamento estético, restando dentro do intervalo entre a subjetivação religiosa e a objetivação técnica, meramente concretiza as qualidades de fundo em meio das estruturas técnicas: ele faz assim a realidade estética, nova mediação entre o homem
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e o mundo, mundo intermediário entre o homem e o mundo.
A realidade estética não pode, com efeito, ser dita nem propriamente objeto nem propriamente sujeito; certamente há uma relativa objetividade dos elementos dessa realidade; mas a realidade estética não é mais destacável do homem e do mundo como um objeto técnico; ela não é nem utilidade nem instrumento; ela pode ficar agregada ao mundo, existindo, por exemplo numa organização intencional de uma realidade natural; ela pode também continuar ligada ao homem, tornando-se uma modulação da voz, um turno de expressão, uma maneira de se vestir; ela não possui mais essa característica necessariamente destacável do instrumento; ela pode permanecer inserida, e fica mesmo normalmente inserida dentro da realidade humana ou dentro do mundo; nós não colocamos uma estátua, nós não plantamos uma árvore em qualquer lugar. Existe uma beleza das coisas e dos seres, uma beleza das maneiras de ser, e a atividade estética começa por senti-la e organizá-la respeitando-a quando ela é naturalmente produzida. A atividade técnica, ao contrário, construída à parte, destaca seus objetos, e lhes aplica ao mundo de maneira abstrata, violenta; mesmo quando o objeto estético é produzido de maneira destacada, como uma estátua ou uma lira, esse objeto permanece o ponto chave de uma parte do mundo e da realidade humana; a estátua colocada diante de um templo é aquela que tem um sentido para um grupo social definido, e o simples fato para a estátua ser colocada no lugar, quer dizer para ocupar um ponto chave que ela utiliza e reforça, mas não acredita mais, mostra que ela não é mais um objeto desligado. Podemos bem dizer que uma lira, enquanto que produtora de sons, é objeto estético, mas os sons da lira não são objetos estéticos que, dentro da medida, concretizam um certo modo de expressão, de comunicação, já existente dentro do homem; a lira se deixa portar como um instrumento, mas os sons que ela produz, e que constituem a verdadeira realidade estética, são inseridos dentro da realidade humana e dentro dessa do mundo; a lira não pode ser entendida dentro do silêncio ou com alguns ruídos determinados, como aquele do vento ou do mar, não com o ruído das vozes ou o murmúrio de uma multidão; o som da lira deve se inserir dentro do mundo, como a estátua se insere. O objeto técnico enquanto utilidade, ao contrário, não se insere mais, porque ele pode agir em todos os lugares, funcionar em todos os lugares. É bem a inserção que define o objeto estético, e não a imitação: uma peça musical que imita os ruídos não pode se inserir dentro do mundo, porque ela substitui certos elementos do universo (por exemplo o barulho do mar) ao invés de completá-los. Uma estátua, em certo sentido, imita um homem, e o completa, mas
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não é mais por isso que ela é uma obra estética; ela é porque se insere dentro de uma arquitetura de uma cidade, marca o ponto mais alto de um promontório, termina uma muralha, supera uma torre. [...]
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O objeto técnico pode ser belo de um jeito diferente, pela sua integração no mundo humano que ele prolonga; assim, uma ferramenta pode ser bela dentro da ação de adaptar-se bem ao corpo que ele parece prolongar de um jeito natural e amplifica, de qualquer jeito suas características estruturais; um punhal não é realmente belo a não ser na mão que o segura; do mesmo jeito, uma ferramenta, uma máquina ou um conjunto técnico são belos quando eles se inserem dentro de um mundo humano e o cobrem de expressão; se o alinhamento das mesas de uma central telefônica é bela, não é em si mesma nem pela sua relação ao mundo geográfico, porque pode estar em qualquer lugar, é porque acende de instante em instante as constelações multicolores e em movimento representando os gestos reais de uma multidão de seres humanos, ligados uns aos outros pelo entrecruzamento dos circuitos. a central telefônica é bela em ação, porque ela é, a todo instante, a expressão e a realização de um aspecto da vida de uma cidade e de uma região; uma luz é como esperado, uma intenção,
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um desejo, uma novidade iminente, uma aniagem que nós não entenderemos mais, a menos que vá ressoar dentro de uma outra casa. Essa beleza é dentro da ação, ela não é mais somente instantânea, mas feita também de um ritmo das horas do dia e da noite. A central telefônica é bela não pelas características do objeto, mas porque ela é um ponto central da vida coletiva e individual. [...]
[...]
Assim, podemos dizer que o objeto estético não está mais, propriamente a falar de um objeto, mas tanto de um prolongamento do mundo natural ou do mundo humano que permanece inserido dentro da realidade que ele porta; ele é um ponto remarcável do universo; esse ponto resulta de uma elaboração e beneficia a tecnicidade; mas ele não é mais arbitrariamente colocado dentro do mundo; ele representa o mundo e focaliza suas forças, suas qualidades de fundo, como mediador religioso; ele se mantém dentro de um estatuto intermediário entre a objetividade e a subjetividade puras. Quando o objeto técnico é belo, é porque se insere dentro do mundo natural ou humano, como a realidade estética. A realidade estética se distingue da realidade religiosa nisso que ela não deixa nem universalizar, nem subjetivar; o artista não é mais
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confundido com a obra, e, se certas idolatrias nascem, elas são reconhecidas como idolatrias; é a tecnicidade da obra de arte que previne a realidade estética de ser confundida com a função de totalidade universal; a obra de arte continua artificial e localizada, produzida em um certo momento; ela não é anterior e superior ao mundo e ao homem. O conjunto de obras de arte continua o universo mágico, mantendo sua estrutura: ele marca o ponto neutro entre as técnicas e a religião.
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A realidade estética se encontra assim adicionada à realidade dada, mas ao longo das linhas que existiam já dentro da realidade dada; ela é que reintroduz dentro da realidade dada as funções figurais e as funções de fundo que, ao momento da dissociação do universo mágico, tornaram-se técnicas e religião. Sem a atividade estética, entre técnicas e religião não existirá mais que uma zona neutra de realidade sem estrutura e sem qualidades; graças à atividade estética, essa zona neutra, embora continuando central e equilibrada, encontra uma densidade e uma significação; ela recomeça através das obras estéticas a estrutura reticular que se estenderá ao conjunto do universo antes da dissociação do pensamento mágico.
Enquanto o pensamento técnico é feito de esquemas, de elementos figurais sem realidade de fundo, e o pensamento religioso de qualidades e de forças de fundo sem estruturas figurais, o pensamento estético combina as estruturas figurais e as qualidades de fundo. Ao invés de representar, como o pensamento técnico, as funções elementares, ou como o pensamento religioso, as funções de totalidade, ele mantém em conjunto elementos e totalidade, figura e fundo dentro da relação analógica; a reticulação estética do mundo é uma rede de analogias.
Com efeito, a obra estética é ligada não mais somente ao mundo e ao homem, como uma realidade intermediária única; ela é ligada também às outras obras, sem se confundir com elas, sem ser em continuidade material com elas, e guardando sua identidade; o universo estético se caracteriza pelo poder de passagem de uma obra à outra, dependendo de uma relação analógica essencial. A analogia é o fundamento da possibilidade de passagem de um termo a um outro sem negação de um termo pelo próximo.
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[...] É porque o pensamento religioso cria as categorias e as classes homogêneas, como aquela do puro e do impuro, sabendo os seres por inclusão dentro dessas classes ou por exclusão destas classes; o pensamento técnico desmonta e reconstrói o funcionamento dos seres, elucidando suas estruturas figurais; o pensamento técnico opera, o pensamento religioso julga, o pensamento estético opera e julga ao mesmo tempo, construindo estruturas e surpreendendo as qualidades do fundo de realidade, de maneira conexa e complementar, dentro da unidade de qualquer ser: ele reconhece a unidade ao nível do ser definido, do objeto do conhecimento e do objeto da operação, ao invés de permanecer, como o pensamento técnico, ou, como o pensamento religioso, todos os dias acima desse nível.
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[...]
A obra estética não é mais a obra completa e absoluta; ela é essa que ensina a ir para a obra completa, que deve estar dentro do mundo e fazer parte do mundo como se ela pertencesse realmente ao mundo, e não como estátua dentro do jardim; é o jardim e a casa que são belos, não as estátuas do jardim que, algumas belas por elas mesmas, o tornam belo. É graças ao jardim que a estátua pode parecer como bela, não o jardim graças à estátua. É com relação a toda a vida de um homem que um objeto pode ser belo. Do contrário, jamais se fala propriamente que o objeto é belo: é o encontro, se operando a propósito do objeto, entre um aspecto real do mundo e um gesto humano. [...]
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[...] a arte é essa porque, a partir da ciência, da moral, da mística, do ritual, surgiu uma nova reticulação e por conseqüência, através dessa nova reticulação, um universo real, no qual se completa o esforço separado dele mesmo que é isso da disjunção interna sofrida pela técnica e pela religião, e por conseqüência, através dessas duas expressões da magia, pelo esforço primário de estruturação do universo. A arte reconstitui o universo, ou melhor reconstitui um universo, enquanto que a magia parte de um universo para estabelecer uma estrutura que já diferencie e corte o universo em domínios carregados de sentido e de poder. A arte visa um universo a partir do esforço humano e reconstitui uma unidade. A arte é assim a recíproca da magia, mas ela não pode ser completamente antes das duas disjunções sucessivas.
Existem duas formas parciais de arte: a arte sagrada e a arte profana; entre a atitude mística e a atitude ritual, a arte pode intervir como mediador; essa arte é como um ato do padre, sem ser, no entanto, isso que constitui um padre; ele encontra qualquer coisa do mediador que desapareceu dentro da quebra que, no lugar da religião, fez aparecer a atitude mística e a atitude ritual.
[...]
A arte é feita de atividade artística e de obra subjetivada, atualizada; nesse sentido, existe mediação porque há celebração.
Bem, a arte profana instala seu objeto, resultante do trabalho artístico, entre o saber teórico e a exigência moral; o belo é intermediário entre o verdadeiro e o bem, se desejamos usar a terminologia eclética. O objeto estético é como a ferramenta intermediária entre as estruturas objetivas e o mundo subjetivo; ele é mediador entre o saber e a vontade. O objeto estético concentra e exprime aspectos do saber e aspectos do querer. A expressão e a criação estéticas são ao mesmo tempo saber e ato. O ato estético se completa em si mesmo como o saber; mas o saber estético é mítico: ele oculta um poder da ação; o objeto estético é resultante de uma operação intermediária entre o saber e a ação.
[...]
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[...] a arte é essa que dentro de um modo, permanece não modal, como ao redor de um indivíduo permanece uma realidade pré individual associada a ele e ele permitindo a comunicação dentro da instituição do coletivo.
A intenção estética é essa que, em certa medida, estabelece uma relação horizontal entre diferentes modos de pensamento. Ela permite passar de um domínio a um outro, de um modo a um outro, sem haver recorrido a um gênero comum; a intenção estética detém o poder transdutivo que conduz de um domínio a outro; ela é exigência de requisito e de passagem ao limite; ela é o contrário do senso da propriedade, do limite, da essência contida dentro de uma definição, da correlação entre uma extensão e uma compreensão. A intenção estética é já nela mesma exigência de totalidade, procura de uma realidade de conjunto. Sem a intenção estética, haveria uma procura indefinida das mesmas realidades ao interior de uma especialização mais e mais estreita,; é porque a intenção estética parece um perpétuo desvio a partir de direções centrais de uma procura; esse desvio é na realidade uma procura da continuidade real sob a fragmentação arbitrária dos domínios.
A intenção estética permite o estabelecimento de uma continuidade transdutiva religando os modos entre eles: passamos assim dos modos do pensamento religioso, aos modos aos modos do pensamento técnico (vale melhor dizer: do pensamento religioso ao pensamento
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pós-técnica), segundo a ordem seguinte: teológica, mística, prática, teórica: mas essa relação transdutiva é fechada sobre ela mesma, se bem que ela não pode ser apreendida senão por uma representação espacial; ao passo que em efeito do teórico ao teológico como passamos do místico ao prático; há continuidade entre as duas ordens objetivas e entre as duas ordens subjetivas. Há assim também continuidade de uma ordem subjetiva a uma ordem objetiva ao interior de cada um dos dois domínios, o técnico e o religioso.
Assim, a intenção estética não cria mais, ou pelo menos não deve mais criar um domínio especializado, aquele da arte; a arte, com efeito, se desenvolve sobre um domínio e possui uma finalidade interna implícita: conservar a unidade transdutiva de um domínio de realidade que tende a se separar em sua especialização. A arte é uma reação profunda contra a perda de significação e de filiação ao conjunto do ser dentro de seu destino; ele não é mais ou não deve ser mais compensação, realidade acontecida após golpe, mas ao contrário, unidade primitiva, prefácio a um desenvolvimento dependendo da unidade; a arte anuncia, pré-figura, introduz, ou completa, mas não realiza mais: ela é inspiração profunda e unitária que inicia e consagra.
Podemos mesmo perguntar se a arte, dentro da medida onde se constata, não é mais assim que resumo de uma certa maneira e torna transportável a uma outra unidade temporal, a um outro momento da história, um conjunto de realidade. A arte, dentro da celebração e da entronização final que realiza, transforma a realidade cumprida e localizada hic et nunc em uma realidade que poderá atravessar o tempo e o espaço: ele torna as conquistas humanas infinitas; dizemos habitualmente que a arte eternize as diferentes realidades; de fato, a arte não é eternizada, mas fica transdutiva, doando a uma realidade localizada e cumprida o poder de passar a outros locais e a outros momentos. Ela não se torna mais eterna, mas dá o poder de renascer e de se recompletar; ele deixa sementes; ele dá ao ser particular realizado hic et nunc o poder de ser ele mesmo e portanto de ser de novo ele mesmo uma outra vez e uma multitude de outras; a arte afrouxa os nós da aceitação; ela multiplica a aceitação, dando à identidade o poder de se repetir sem cessar de ser identidade.
A arte cruza os limites ontológicos, se liberando com relação ao ser e ao não ser: um ser pode se tornar e se repetir sem se negar e sem recusar ter sido, a arte é poder de interação que não destrói a realidade de cada recomeço; nisso ela é
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mágica. Ela faz que toda realidade, singular dentro do espaço e dentro do tempo, seja portanto uma realidade em rede: esse ponto é homólogo de uma infinidade de outras que lhe respondem e que são elas mesmas sem, no entanto destruir a identidade de cada nó da rede: lá, nessa estrutura reticular do real, reside esse que podemos nomear mistério estético.
II. Pensamento técnico, pensamento teórico, pensamento prático
O poder de convergência da atividade estética não se exerce plenamente a não ser no nível da relação entre as formas primitivas das técnicas e das religiões. Mas o poder de divergência contido dentro da autonomia do desenvolvimento das técnicas e das religiões cria uma nova ordem de modos de pensamento, provenientes do desdobramento das técnicas e das religiões, que nem são mais ao nível natural do pensamento estético. Com relação a esses modos, o pensamento estético aparece como primitivo; ele não pode fazê-los convergir por seu próprio exercício, e sua atividade serve somente de paradigma para orientar e sustentar o esforço do pensamento filosófico. Como o pensamento estético, o pensamento filosófico se situa no ponto neutro entre fases opostas; mas seu nível não é mais aquele da oposição primária resultante da defasagem da unidade mágica; ele é aquele da oposição secundária entre os resultados do desdobramento do pensamento técnico e do pensamento religioso. Ora, é necessário estudar esse desdobramento secundário, e todo particularmente aquele da atividade técnica, para saber como em se aplicando ao se tornar da tecnicidade, o pensamento filosófico pode desempenhar de maneira eficaz e inteira seu papel de convergência pós-estética.
O nível das modalidades primárias do pensamento (técnico, religioso e estético) se caracteriza pelo emprego somente ocasional da comunicação e da expressão; certamente, o pensamento estético é suscetível de ser comunicado, e as técnicas, as religiões mesmo podem ser, dentro de uma certa medida aprendidas, transmitidas, ensinadas. Dependendo é uma prova direta, necessitando de uma colocação em situação do sujeito, que essas formas primitivas de pensamento são transmitidas; os objetos que eles criam, suas manifestações, podem cair no senso comum, mas os esquemas de pensamento, as impressões e as normas que constituem esses pensamentos eles mesmos e os alimentam não são mais diretamente da ordem
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de expressão, podemos aprender um poema, contemplar uma obra pictural, mas não se aprende a poesia ou a pintura: o essencial do pensamento não é transmitido pela expressão, porque esses diferentes tipos de pensamento são mediações entre o homem e o mundo, e não dos encontros entre sujeitos: eles não supõem uma modificação de um sistema intersubjetivo.
Ao contrário, as modalidades secundárias do pensamento supõem comunicação e expressão, eles implicam possibilidade de um julgamento, nó da comunicação expressiva, e eles comportam, num próprio sentido, as modalidades, atitudes do sujeito em face do conteúdo de sua enunciação.
Ora, a tecnicidade introduz a certos tipos de julgamentos, e em particular ao julgamento teórico e ao julgamento prático, ou pelo menos a certos julgamentos teóricos e a certos julgamentos práticos.
Convém notar que a tecnicidade não é mais a única a engendrar por saturação o desdobramento das modalidades do pensamento comunicacional; o pensamento religioso também é uma base de julgamentos.
O desdobramento do pensamento técnico, como aquele do pensamento religioso, provém de um estado de supersaturação desse pensamento; ao nível primitivo, o pensamento técnico, mais que o pensamento religioso, não porta julgamentos; os julgamentos aparecem ao mesmo tempo em que as modalidades se diferenciam, porque as modalidades são modalidades do pensamento, e particularmente das modalidades da expressão, antes de serem modalidades de julgamento; o julgamento é só o ponto nodal da comunicação expressiva; é enquanto instrumento de comunicação que ele possui uma modalidade, porque a modalidade é definida pelo tipo de expressão; ela é a intenção expressiva que desdobra o julgamento; ele o faz aparecer; o julgamento concretiza a modalidade de expressão, mas ele não o esgota mais. [...]
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[...]
A ciência é conceitual não porque ela destina as técnicas, mas porque ela é um sistema de compatibilidade entre os gestos técnicos e os limites que o mundo impôs a esses gestos; se ela surge diretamente das técnicas, ela não será feita, a não ser de esquemas figurais, e não de conceitos. [...]
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As qualidades naturais, o Ϙύοεις, pensados como suportes dos gestos técnicos, constituem o tipo mais primitivo de conceitos, e marcam os inícios do pensamento cientifico indutivo.
O outro resultado dessa disjunção é o aparecimento de um pensamento prático não inserido na realidade, mas feito também de uma coleção de esquemas, separados uns dos outros por sua origem. [...]
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[...]
O emprego do número dentro das ciências pode ter origem religiosa, mais que origem técnica; o número, com efeito, é essencialmente estrutura que permite a dedução e permite apreender uma realidade particular dentro da sua referencia ao conjunto, para integrá-lo; é o número dos filósofos, definido por Platão, que opôs a métrica filosófica àquela dos mercadores, processo prático puro, que não permite identificar as relações entre os seres humanos e a totalidade, conhecido por Cosmos. Os números ideais são as estruturas que permitem a relação de participação. A crítica que faz Aristóteles das idéias-números dentro da Metafísica não retêm mais esta característica eminentemente estrutural das idéias-números de Platão, porque Aristóteles segue os padrões de pensamento indutivo, considerando os números através da operação de numerar; ou seja, o pensamento teórico que utiliza os números é essencialmente contemplativo, de origem religiosa. Ele não vai contar ou medir os seres, mas estimar o que eles são dentro da sua essência, com relação à totalidade do mundo; é porque ele se destina a pesquisar no número a estrutura essencial de cada coisa em particular. O pensamento religioso, caracterizado pela função de totalidade e de inspiração monista é a segunda fonte do saber teórico. Note-se que sua intenção é a de compreender as realidades figurais universais, uma ordem do mundo, uma economia de todo o ser; ele é a metafísica e não física dentro desta pesquisa, porque ele não visa mais, como o pensamento técnico dissociando uma acumulação indutiva de realidades de fundo locais, os poderes ou Ϙύοεις ; ele pesquisa as linhas estruturais universais, a figura do todo. Podemos supor que a pesquisa depois da fonte dedutiva do saber teórico não poderá jamais reencontrar completamente os resultados da pesquisa indutiva, porque estas etapas são fundadas uma sobre uma realidade de fundo e outra sobre uma realidade figural.
Dentro da ordem prática, o pensamento religioso faz nascer uma ética de obrigação, partindo de um princípio incondicional
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e descendente do princípio de regras particulares; ele tem analogia entre o monismo teórico e o monismo prático das formas de pensamento governadas pela religião; a ordem do mundo não pode ser outra que ele não é; ele é o contrário da virtualidade; ele é atualidade anterior a todo conhecimento que temos e mesmo a todo o futuro: a modalidade do conhecimento dedutivo teórico é a necessidade. À modalidade teórica de necessidade corresponde dentro da ordem prática a característica incondicional e única do imperativo, quer dizer, sua característica categórica; este imperativo de despachos. A maneira como Kant apresenta o imperativo categórico convém para definir o princípio da ética depois da religião, se Kant não tinha anexado o imperativo categórico para a universalidade da razão; o imperativo categórico religioso é categórico antes de ser racional; ele é desde o início, porque a totalidade do ser preexiste a toda ação particular e a supera infinitamente, como a realidade envelopa o ser particular que é o sujeito da ação moral. O caráter categórico do imperativo moral traduz a exigência com relação à particularidade do ser que age; o imperativo categórico é antes a respeito da totalidade; ele é feito da característica dada e auto-justificativa da realidade de fundo. Isto que diz respeito ao sujeito moral, dentro do imperativo categórico é o real enquanto totalidade que o supera infinitamente, condicionando e justificando sua ação porque ele a contém; toda ação particular está na totalidade; se instala sobre o fundo do ser e encontra sua normatividade nele. Ela não o constrói mais, nem o modifica: ela não pode mais do que se aplicar e se conformar. Está aí a segunda fonte da ética, se opondo à fonte técnica.
Podemos dizer também que existem duas fontes do pensamento teórico e duas fontes do pensamento prático: a técnica e a religião, tomadas no momento em que, ou elas se desdobram porque estão supersaturadas e encontraram, uma e outra um conteúdo de fundo e um conteúdo figural. O pensamento teórico recolhe o conteúdo de fundo das técnicas e o conteúdo figural das religiões: ele se torna assim, indutivo e dedutivo, operatório e contemplativo; o pensamento prático recolhe o conteúdo figural das técnicas e o conteúdo de fundo, das religiões, isto que lhe fornece normas hipotéticas e normas categóricas, pluralismo e monismo.
O saber completo e a moral completa estão no ponto de convergência dos modos de pensamento de dentro da ordem teórica e
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dentro da ordem prática, estas duas fontes opostas. Ora, isto é mais um conflito do que uma descoberta de unidade que aparece entre estas exigências opostas; nem o pensamento teórico, nem o pensamento prático chegarão a descobrir completamente um conteúdo que estará verdadeiramente no ponto de reencontro das duas direções de base. Mas estas direções agem como futuros normativos, em definição de modalidades únicas, podendo existir julgamento por julgamento, ato por ato.
Dentro da ordem teórica, esta modalidade sintética mediana é aquela da realidade; o real não é mais este que é primeiramente dado; é este no qual haveria o reencontro entre o saber indutivo e o saber dedutivo; é o fundamento da possibilidade deste reencontro e o fundamento correlativo da compatibilidade de um conhecimento pluralista e de um conhecimento monista; o real é a síntese do virtual e do necessário, ou melhor, o fundamento de sua compatibilidade; entre o pluralismo indutivo e o monismo dedutivo, ele é a estabilidade da relação figura-fundo tida como realidade completa.
Correlativamente, dentro da ordem prática, entre a modalidade optativa do pensamento prático após as técnicas e o imperativo categórico existe a categoria moral central, ao ponto de reencontro do optativo e da obrigação, entre o pluralismo dos valores práticos e o monismo do imperativo categórico; esta modalidade ainda não recebeu um nome, porque só com termos extremos (imperativos hipotéticos e imperativo categórico) tenham sido notados; portanto ele corresponde, dentro da ordem prática, à realidade dentro da ordem teórica; ele visa otimizar a ação e implica uma pluralidade possível de valores e a unidade de uma norma de compatibilidade. O ótimo é uma característica da ação que compatibiliza a pluralidade dos valores e a exigência incondicional da totalidade. O ótimo da ação postula uma convergência possível dos imperativos hipotéticos e do imperativo categórico, e o constitui esta compatibilidade, como a descoberta das estruturas do real compatibilizam o pluralismo indutivo e o monismo dedutivo.
Podemos dizer que o pensamento teórico e o pensamento prático se constituem dentro da medida ou eles realizam uma convergência para o centro neutro, redescobrem assim um análogo do pensamento mágico primitivo. Contudo, a unidade teórica e a unidade prática, postuladas pela existência das duas modalidades medianas do julgamento teórico e do julgamento prático (realidade e ótimo da ação) subsiste um hiato entre a ordem teórica e a ordem prática;
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a ruptura primitiva dissociante da unidade mágica em figura e fundo são substituídas pela característica bimodal do pensamento, dividido entre teoria e prática. Qualquer modo, teórico e prático, possui figura e fundo; mas é nisto que os dois coletaram o legado completo do pensamento mágico primitivo, modo completo de ser do homem no mundo. Porque a divergência do tornar-se pensamento se compensou inteiramente, de onde deveria acontecer que a distancia entre a ordem teórica e a ordem prática fosse atravessada por um tipo de pensamento com uma definitiva capacidade de síntese e podendo se apresentar como o análogo funcional da magia depois da atividade estática; dizendo de outro jeito, ele deveria retomar o patamar da relação do pensamento teórico e do pensamento prático, a obra que o pensamento estático transporta ao patamar da oposição primitiva entre técnica e religião. Este trabalho é reflexão filosófica que deve desempenhar.
Ora, porque a obra filosófica pode ser realizada, deve ser a base para esta reflexão ser firme e completa: temos que, em outras palavras, a gênese das formas teóricas e práticas de pensamento é total e completamente realizável porque o sentido da relação parece estabelecer. O pensamento filosófico deve então, para poder jogar sua regra de convergência, primeiro tomar consciência das gêneses anteriores, a fim de apreender as modalidades dentro da sua verdadeira significação, para poder determinar o verdadeiro centro neutro do pensamento filosófico; com efeito, o pensamento teórico e o pensamento prático estão ainda imperfeitos e incompletos; é sua intenção e sua direção que eles devem aproveitar; ou esta direção e esta intenção não serão mais dadas por um exame do conteúdo atual de qualquer destas formas de pensamento; é o sentido do formar-se de qualquer jeito, a partir de suas origens, que ele faz conhecer, porque o esforço filosófico toma a direção que é aquela que ele deve exercer. O pensamento filosófico deve reassumir a forma ao final do que ele intervém como força de convergência. Ele pode, por si mesmo operar uma conversão do pensamento técnico e do pensamento religioso em modos relacionais diante da dissociação que faz surgir o pensamento teórico e o pensamento prático; não existe qualquer prova de efeito que uma síntese viável possa se estabelecer entre estas formas de pensamento, se ele não tem mais um domínio comum de base preexistente à dissociação e, conectando o pensamento estético à filosofia, este modo médio pode ser chamado de cultura; a filosofia será assim construtiva e integrante da cultura
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refletindo o sentido das religiões e das técnicas, em conteúdo cultural. Tudo particularmente, ele teria a missão de introduzir na cultura as novas manifestações do pensamento técnico e do pensamento religioso: a cultura seria o ponto neutro, acompanhando a gênese dos diferentes tipos de pensamento e conservando o resultado do exercício das forças de convergência.
A aplicação de um esforço de convergência às formas recentes de pensamento elementar das técnicas e do pensamento das totalidades, matriz das religiões, é possível pelo fato de que estes dois tipos de pensamento se aplicam à mediação, não somente entre mundo e homem individual, mas entre o mundo geográfico e o mundo humano; estes dois tipos de pensamento têm da realidade humana a título de objeto e, se elaboram a partir desta nova carga; eles refratam da realidade humana em sentidos diferentes: esta comunidade do objeto pode servir de base à edificação de uma cultura pela intermediação da reflexão filosófica; existem técnicas do homem e, toda técnica é, dentro de certa medida, técnica do homem em grupo, porque o homem intervém dentro da determinação do conjunto técnico; a saturação da atividade técnica pode conduzir a uma estruturação, exceto que arrebente em modo teórico e modo prático do pensamento; o pensamento filosófico pode permitir ao pensamento técnico permanecer técnico por um tempo mais longo e mis completamente, a fim de tentar colocar em relação as duas fases opostas do homem se colocar no mundo, diante da dissociação do pensamento técnico e do pensamento religioso; o pensamento filosófico teria a missão de retomar o futuro, quer dizer, tornar mais lento, a fim de aprofundar seu sentido e torná-lo mais fecundo: a dissociação das fases fundamentais do pensamento em modos teóricos e em modos práticos pode ser prematura; o esforço filosófico pode conservar tecnicidade e religiosidade para descobrir sua convergência possível ao final de uma gênese que não teria conseguido espontaneamente sem a intenção genética do esforço filosófico. A filosofia se propõe assim, não somente a descoberta, mas a produção de essências genéticas.
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CONCLUSÃO
Há muito tempo, a realidade do objeto técnico passou para o segundo plano atrás do trabalho humano. O objeto técnico tem sido apreendido por meio do trabalho humano, pensado e julgado como instrumento, adjuvante, ou produto do trabalho. Ora, ele deveria, em favor do próprio homem, poder operar um retorno que permitiria àquilo que existe de humano dentro do objeto técnico aparecer diretamente, sem passar por meio da relação de trabalho. É o trabalho que deve ser conhecido como fase da tecnicidade, não a tecnicidade como fase do trabalho, poque é a tecnicidade que é o conjunto, onde o trabalho é uma parte, e não o inverso.
Uma definição naturalista do trabalho é insuficiente; dizer que o trabalho é exploração da natureza pelos homens em sociedade, é reduzir o trabalho a uma reação elaborada pelo homem primeiro como espécie diante da natureza à qual ele se adapta e determina. Não se trata aqui de saber se este determinismo dentro da relação natureza-homem é senso comum ou comporta uma reciprocidade; a hipótese de uma reciprocidade não muda o esquema de base, a saber o esquema de condicionamento e o aspecto reacional do trabalho. Agora é o trabalho que dá sentido ao objeto técnico, não o objeto técnico que dá o sentido ao trabalho.
Ora, dentro da perspectiva proposta, o trabalho pode ser visto como aspecto da operação técnica, que nunca se reduz ao trabalho. Existe trabalho somente quando o homem deve dar seu corpo como portador de ferramentas, quer dizer quando o homem estiver acompanhado pela atividade de seu organismo, de sua unidade psicossomática, a conduta etapa por etapa da relação homem-natureza. O trabalho é a atividade pela qual o homem realiza nele mesmo a mediação entre a espécie humana e a natureza, podemos dizer que, neste caso, o homem opera como portador de ferramentas porque dentro
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desta atividade ele age sobre a natureza e segue, passo a passo, gesto por gesto, esta ação. Há trabalho quando o homem não pode confiar ao objeto técnico a função de mediação entre a espécie e a natureza, e deve cumprir, ele mesmo, pelo seu corpo, seu pensamento, sua ação, esta função de relação. O homem apronta agora sua própria individualidade de ser vivo para organizar esta operação; assim ele se tornou portador de ferramentas. Ao contrário, assim que o objeto técnico está concretizado, a mistura entre natureza e homem se constitui em torno deste objeto; a operação sobre o ente técnico não é mais exatamente um trabalho. Com efeito, dentro do trabalho, o homem coincide com uma realidade que não é mais humana, se cola a esta realidade, desliza de todo jeito, entre a realidade natural e a intenção humana; o homem, dentro do trabalho, molda a matéria segundo uma forma; ele busca com esta forma, que é uma intenção de resultado, uma predeterminação que é necessária obter ao final da operação segundo as necessidades preexistentes. Esta forma-intenção não faz mais parte da matéria sobre a qual empregou o trabalho; ela exprime uma utilidade ou uma necessidade para o homem, mas seu destino não é mais da natureza. A atividade de trabalho é esta que faz a ligação entre a matéria natural e a forma, a proveniência humana; o trabalho é uma atividade que chega a fazer coincidir, para tornar sinérgicas, duas realidades tão heterogêneas quanto matéria e forma. Ora, a atividade de trabalho torna o homem consciente dos dois termos que ele coloca sinteticamente em relação, porque o trabalhador deve ter os olhos fixos sobre os dois termos que ele deve aproximar (é a norma do trabalho), não sobre a interioridade mesma da operação complexa pela qual esta aproximação foi obtida. O trabalho quer levar a relação para o perfil dos lucros.
Freqüentemente, em outros locais, a condição servil do trabalhador contribui para tornar mais obscura a operação, pela qual aquela matéria e forma são levadas a coincidir; o homem que comanda um trabalho se ocupa daquilo que deve figurar dentro de uma ordem dada, a título de conteúdo, e de matéria prima que é condição de execução, não da própria operação que permite que tome forma: a atenção se fixa sobre a forma e sobre a matéria, não sobre a tomada de forma enquanto operação. O esquema hilemórfico é assim um par dentro do qual os dois termos são líquidos e a relação obscura. O esquema hilemórfico, sob este aspecto particular, representa a transposição dentro do pensamento filosófico da operação técnica reduzida ao trabalho, e tomada como paradigma
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universal de gênese dos seres. É bem uma experiência técnica, mas uma experiência técnica muito incompleta, que está na base deste paradigma. A utilização generalizada do esquema hilemórfico na filosofia introduz uma obscuridade que vem da insuficiência da base técnica deste esquema.
Ele não é mais suficiente, com efeito, de entrar com o operário ou o escravo dentro do atelier, ou mesmo de pegar na mão o molde e de acionar o torno. O ponto de vista do homem que trabalha é ainda bem exterior à apreensão da forma, que é a única técnica nela mesma. ele deveria poder entrar dentro do molde com a argila, fazer-se molde e argila, viver e sentir sua operação comum para poder pensar na apreensão da própria forma. Porque o trabalhador elabora dois semi-canais técnicos que preparam a operação técnica: ele prepara a argila, a torna plástica e sem grumos, sem bolhas, e prepara correlativamente o molde; ele materializa a forma no fazer o molde de madeira, e torna a matéria provável, informável; pois ele coloca a argila dentro do molde e a aperta; mas é o sistema constituído pelo molde e pela argila prensada que é a condição da tomada da forma; é a argila que toma forma segundo o molde, não o trabalhador que lhe dá a forma. O homem que trabalha prepara sua mediação, mas ele não a completa; é a mediação que se completa nela mesma depois que as condições foram criadas; também, bem que o homem está muito próximo desta operação, ele não a conhece mais, seu corpo a empurra para que se cumpra, ele permite que se cumpra, mas a representação da operação técnica não aparece mais dentro do trabalho. É o essencial que falta, o centro ativo da operação técnica que permanece velado. Devido a todo o tempo que o homem praticou o trabalho sem utilizar os objetos técnicos, o saber técnico só pode ser transmitido sob a forma implícita e prática, por meio de hábitos e gestos profissionais: o saber motor é com efeito, aquele que permite a elaboração dos dois semi-canais técnicos, aquele que parte da forma e aquele que parte da matéria. Mas ele não vai e não pode ir mais longe: ele se decide diante da operação: ele não penetra dentro do molde. Na sua essência, ele é pré-técnico e não técnico.
O saber técnico consiste, ao contrário, a partir de quando se passa ao interior do molde para encontrar a partir do seu centro as diferentes elaborações que poderá preparar. Quando o homem não intervém mais como portador de ferramentas, ele pode se perder dentro da obscuridade no centro da operação; é com efeito este centro que
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deve ser produzido pelo objeto técnico, que não pensa mais, que não sente mais, que não adquira mais hábitos. Para construir o objeto técnico que funcionará, o homem necessita representar o funcionamento que coincide com a operação técnica, que a completa. O funcionamento do objeto técnico faz parte da mesma ordem de realidade, do mesmo sistema de causas e efeitos que a operação técnica; não tem mais heterogeneidade entre a preparação da operação técnica e do funcionamento desta operação; esta operação prolonga o funcionamento técnico como o funcionamento antecipa esta operação: o funcionamento é operação e a operação é funcionamento. Podemos falar do trabalho de uma máquina, mas somente de um funcionamento, que é um conjunto ordenado de operações. Forma e matéria, se elas existem ainda, estão no mesmo patamar, fazem parte do mesmo sistema; entre a técnica e o natural há continuidade.
A fabricação do objeto técnico não comporta mais esta zona obscura entre forma e matéria. O saber pré-técnico é assim pré-lógico, neste sentido, que ele constitui um par de termos sem descobrir a interioridade da relação (como dentro do esquema hilemórfico). Ao contrário, o saber técnico é lógico, no sentido que ele pesquisa a interioridade da relação.
Ora, será extremamente importante constatar que o paradigmatismo, este da relação de trabalho, é muito diferente daquele que surge da operação técnica, do saber técnico. O esquema hilemórfico faz parte do conteúdo de nossa cultura; ele foi transmitido depois da Antiguidade Clássica, e nós pensamos em muitas ocasiões como este esquema está perfeitamente fundado, não é mais relativo a uma experiência particular, pode ser abusivamente generalizado, mas co-extensivo à realidade universal. Ele deveria tratar a apreensão da forma como uma operação técnica particular; mais do que tratar todas as operações técnicas como casos particulares de tomada da forma, conhecida ela mesma obscuramente por meio do trabalho.
Neste sentido, o estudo do modo de existência dos objetos técnicos deverá ser prolongado para aquele dos resultados de seu funcionamento, e das atitudes do homem em face dos objetos técnicos. Uma fenomenologia do objeto técnico se prolongará assim em psicologia da relação entre homem e objeto técnico. Mas, dentro deste estudo, duas armadilhas devem ser evitadas, e é precisamente a essência da operação técnica que permite evitá-las:
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a atividade técnica não faz parte nem do domínio social puro nem do domínio psíquico puro. Ela é o modelo da relação coletiva, que não pode ser confundida com uma das duas precedentes; ela não é mais do mesmo modo e do mesmo conteúdo do coletivo, mas ela é do coletivo e, dentro de certos casos, é autora da atividade técnica que pode nascer do grupo coletivo.
Nós entendemos também por grupo social aquele que se constitui como os dos animais, segundo uma adaptação às condições do meio ambiente; o trabalho é este pelo qual o ser humano é mediador entre a natureza e a humanidade como espécie. Ao contrário, mas no mesmo patamar, a relação interpsicológica que coloca o indivíduo adiante do indivíduo, instituindo uma reciprocidade sem mediação. Ao contrário, pela atividade técnica, o homem cria as mediações e estas mediações são destacáveis do indivíduo que as produz e as pensa; o indivíduo se exprime nelas, mas não adere a elas; a máquina possui uma impersonalidade que faz com que ela possa se tornar instrumento para um outro homem; a realidade humana que ela cristaliza em si é alienável, precisamente porque ela é destacável. O trabalho adere ao trabalhador, e reciprocamente, por intermédio do trabalho, o trabalhador adere à natureza sobre a qual ele opera. O objeto técnico, pensado e construído pelo homem, não se limita somente a criar uma mediação entre homem e natureza; ele é um misto estável de humano e de natural, ele contem do humano e do natural; ele dá a seu conteúdo humano uma estrutura parecida àquela dos objetos naturais, e permite a inserção dentro do mundo das causas e dos efeitos naturais desta realidade humana. A relação do homem com a natureza, longe de ser somente vivida e praticada de maneira obscura, ganha um estatuto de estabilidade, de consistência, que faz dela uma realidade com suas leis e sua permanência ordenada. A atividade técnica, na construção do mundo dos objetos técnicos e na generalização da mediação objetiva entre homem e natureza, une o homem à natureza segundo uma ligação mais rica e melhor definida do que aquela da relação específica de trabalho coletivo. Uma convertibilidade do humano em natural e do natural em humano se institui por meio do esquematismo técnico.
A operação técnica, em vez de ser puro empirismo, constrói assim, um mundo estruturado, fazendo aparecer uma nova situação relativa, entre o homem e a natureza. A percepção corresponde a colocar diretamente em questão o ser humano pelo mundo natural. A ciência corresponde à mesma colocação em questão por meio do universo técnico. Pelo trabalho sem obstáculo, a sensação apenas; a
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[...] a ciência e a invenção técnica estão no mesmo patamar; é o esquema mental que permite invenção e ciência; é ele ainda que permite o uso do objeto técnico como produtivo, dentro de um conjunto industrial, ou como científico, dentro de uma montagem experimental. (SIMONDON, 1989: 247). [...]
[...] O objeto técnico apreendido por sua essência, quer dizer o objeto técnico enquanto foi inventado, pensado e desejado, assumido por um sujeito humano, se torna o suporte e o símbolo desta relação que gostamos de chamar transindividual. O objeto técnico pode ser lido como portador de uma informação definida; se ele é somente utilizado, empregado, e por conseqüência usado, ele pode conter mais alguma informação do que um livro que será usado como apoio ou pedestal. O objeto técnico apreciado e conhecido segundo sua essência, quer dizer, de acordo com o ato humano da invenção que o fundou, penetrado de inteligibilidade funcional, valorizado segundo suas normas internas, carrega com ele uma informação pura. Podemos nomear informação pura aquela que não é mais eventual, aquela que não pode ser que o sujeito que a receba suscite nele uma forma análoga às formas contidas pelo suporte da informação; esta que está contida dentro do objeto técnico, é a forma, cristalização material de um esquema processual e de um pensamento que resolveu um problema. Esta forma, por ser incluída, necessita de formas análogas dentro do sujeito: a informação não é mais um advento absoluto, mas a significação que resulta de uma relação de formas, de uma extrínseca a uma intrínseca com relação ao sujeito. Então, porque um objeto técnico é recebido como técnica e não mais somente como utilidade, porque ele é julgado como resultado
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de invenção, portador de informação e não como utensílio, é necessário que o sujeito que o recebeu tenha nele as formas técnicas. [...]
pg 249
[...] a noção de alienação merece ser generalizada, afim de que possamos situar o aspecto econômico da alienação; segundo esta doutrina (MARX), a alienação econômica se dá no patamar das superestruturas e supõe um fundamento mais implícito que é a alienação essencial à situação do ser individual dentro do trabalho.
Se esta hipótese é justa, a verdadeira vontade para reduzir a alienação não vai se situar nem no domínio do social (com a comunidade de trabalho e a classe), nem dentro do domínio das relações interindividuais que a psicologia social visa habitualmente, mas no patamar do coletivo transindividual. (SIMONDON, 1989: 249). O objeto técnico apareceu dentro de um mundo onde as estruturas sociais e os conteúdos psíquicos foram formados para o trabalho:o objeto técnico foi introduzido no mundo do trabalho, em vez criar um mundo com novas estruturas técnicas. A máquina continua sendo usada através do trabalho e não do saber técnico; a abordagem do trabalhador à máquina é inadequado, porque ele trabalha na máquina sem que seu gesto prolongue a atividade de invenção. (SIMONDON, 1989: 249). [...]
pg 250
[...] a máquina, com efeito, não tem mais que ser expressa dentro da existência a partir da sua construção, sem necessidade de retoques, de reparos, de regulagens. O esquema técnico original de invenção é mais ou menos bem realizado em qualquer exemplar, isto faz com que qualquer exemplar funcione mais ou menos bem.
É por referência não mais à materialidade e à particularidade de qualquer exemplar de um objeto técnico, mas com referência ao esquema técnico de invenção que regulagens e reparos são possíveis e eficazes; este que o homem recebe, não é mais o produto direto do pensamento técnico, mas um exemplar de fabricação cumprida com mais ou menos de precisão e perfeição a partir do pensamento técnico; este exemplar de fabricação é símbolo do pensamento técnico, portador de formas que devem reencontrar um sujeito para prolongar e completar o desempenho do pensamento técnico. O utilizador deve portar as formas porque, do reencontro de suas formas técnicas com as formas veiculadas pela máquina, e mais ou menos perfeitamente realizadas nela, surge a significação, a partir da qual o trabalho sobre um objeto técnico se transforma em atividade técnica e não simples trabalho. A atividade técnica se distingue do simples trabalho, e do trabalho alienante, na medida em que a atividade técnica comporta, não somente a utilização da máquina, mas também um certo coeficiente de atenção ao funcionamento técnico, manutenção, regulagem, melhoramento da máquina, que prolonga a atividade de invenção e construção. A alienação fundamental reside dentro da ruptura que se produz entre a ontogênese do objeto técnico e a existência deste objeto técnico. [...]
pg 255
[...] o gesto do trabalho se dirige para sua imediata utilidade. Mas a atividade técnica aderiu à realidade, somente depois de uma longa elaboração; ela é baseada em leis, não é improvisada; porque as receitas técnicas são eficazes, elas devem chegar à realidade segundo as leis da própria realidade; neste sentido, as técnicas são objetivas, apesar de todos os aspectos de utilidade que elas podem apresentar. (SIMONDON, 1989: 255).
Nomads USP - Professor Marcelo Tramontano
nomads.usp núcleo de estudos de habitares interativos
nomads.usp center for studies of interactive living
usp universidade de são paulo, brasil | university of sao paulo, brazil
eesc escola de engenharia de são carlos | school of engineering of são carlos
departamento de arquitetura e urbanismo | department of architecture and urbanism
av. trabalhador sancarlense 400 13560 são carlos sp
caixa postal 359 | p. o. box 359
t. +55.16.3373.8297 | f. +55.16.33739310 nomads@sc.usp.br
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008
22 de outubro de 2008 Dissertação
Defesa da dissertação Leonora Fink, dia 22 de outubro do ano de 2008.
Título - Corpo, Tecnologia e Arte, no cenário da Cibercultura.
Como eu, muitos amigos já defenderam e outros estão para finalizar o curso.
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Como eu, muitos amigos já defenderam e outros estão para finalizar o curso.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Gilbert Simondon
Gilbert Simondon
http://www.answers.com/topic/gilbert-simondon
Gilbert Simondon Biografia
http://www.admiroutes.asso.fr/larevue/2000/2/simondon.htm
Gilbert Simondon individuação
http://multitudes.samizdat.net/-Majeure-Politiques-de-l-.html
http://commposite.uqam.ca/2000.1/articles/gladu.htm
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
quinta-feira, 17 de julho de 2008
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Wearable + Arduino
Aplicações da plataforma Arduino em sistemas de Computadores Vestíveis.
Link para o blog da Mediamatic
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quarta-feira, 30 de abril de 2008
Fashion, news and etc
Welcome to We Are The Market, a news, style and fashion-centric culture blog brought to you by fashion branding consultancy BPMW. Our eagle eyes are fixed on the premium, denim, streetwear and contemporary markets and we're rounding up what's hot right now, right here.
Moda na rua
Site em que se pode observar o que as pessoas usam nas ruas de diferentes cidades pelo mundo.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Cibercidades
Observatório das Cibercidades, blog do grupo de pesquisa da UFBA, professor Andre Lemos.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
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